Aquarela de poesias

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Poesias para você

domingo, 6 de setembro de 2015

A QUEM PERTENCE O POEMA?

                   A quem pertence o poema?

O poema pode ser de quem o lê. Ele chega lépido e faceiro a quem dele precisa .Quem o aceita sorve, lentamente, as sílabas, como se dele se apropriasse. A cada leitor uma nova interpretação se impõe.
O conteúdo dos versos trilha o mundo todo e parece ultrapassar o seu autor em importância. É um legado para a posteridade e ficará no livro para o deleite das gerações futuras. Seu apelo se espalha em nosso interior e de lá sai com mais força e proveito.
O poeta cria um arcabouço, cria uma moldura e une o sentido do belo com o sentido do tema, visto como arte.
Um tema bem escrito tem o canto próprio e a rima sai de sua toca inicial para ser declamada em todos os recantos, revelando o seu encanto.
O poema é eivado de beleza.  É lenimento, bálsamo, conforto espiritual para quem o espera com ansiedade.
Em contraponto, eu poderia dizer que, para outros, o poema é propriedade do autor, e com justa razão.
É o que o escreve e nele coloca a alma e todo o sentimento. Precisa se concentrar, se inspirar, se emocionar e, principalmente, se doar ao leitor. Precisa amadurecer o tema e trabalhar o conteúdo, a lógica, a forma e a clareza das ideias. Precisa se comprometer com a correção gramatical, evitar o lugar comum e a rima pobre.
Rimas infindas vão se sobrepondo e se avolumando na medida da ânsia do autor em se expressar nas linhas que não param de surgir a sua frente. O autor as escreve com calor e vibração intensa e se projeta no texto com toda a sua exuberância.
Há autores que dizem que o poema vem pronto como obra do Espírito Santo que o assopra, pertinho do ouvido. Ou vem dos poetas mortos, prematuramente, que não tiveram tempo de escrevê-los. E ao autor caberia só rascunhar e publicá-los nos livros. Outros autores defendem a tese de que uma bebedeira deixaria brotar a imaginação, assim como uma grande desilusão amorosa, que inspira ou já inspirou, os famosos poetas que experimentaram a fatídica ''dor de cotovelo.''
O leitor nem sempre corresponde. Alguns deles não têm o devido preparo para bem interpretar a intenção do autor. Outros não têm a profundidade para penetrar no tema, nem a capacidade de exercer a empatia e submergir no verso.
Ao contrário, o autor amplia o seu próprio mundo e compartilha tantas emoções que consegue, ora dar um grito de socorro, ora uma palavra tranquilizadora.
O autor se identifica em cada sílaba, em cada verso, em cada rima, em cada imagem que vem à tona nos rascunhos que servem de ensaio. É capaz de criar imagens de sonhos e fazer vibrar a alma.
Então, a quem pertence o poema?
Para evitar um confronto e um desconforto entre os leitores, vamos defender a tese de que autor e leitor se apropriam do poema.
Leitor e autor devem tentar conseguir uma interação com o texto, uma simbiose lírica, um companheirismo poético e único.
Um deles quer escrever e o outro quer ler e receber o poema com o sangue pulsando.
Enquanto houver um leitor atento haverá um escritor para divulgar seus poemas. Poemas precisam correr mundo e não se deixar prender em gavetas cheias de cupim. Quem está se iniciando na escrita não deixe os poemas guardados até amarelar o papel ou vê-lo cheio de manchas de umidade ou buracos roídos.
Escrever poemas é um talento que precisa desabrochar e se firmar no campo literário. E quem gosta de escrever que siga escrevendo sem parar. Os louros virão no tempo certo.
Quando um leitor abre um livro de poemas percebe estar lendo, concomitantemente, os sentimentos do poeta. Ele derrama nas rimas um pouco de sua vida e muito de suas carências. 
Novamente:
-A quem pertence o poema?
Deixo que decidam por si mesmos e preparem o seu especial argumento para defendê-lo.

                                      KATIA CHIAPPINI


5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eis um bom tema a ser enfrentado. Gostei muito do encaminhamento dado pela autora. Há boa dose de experimentação e vivência subjacentes ao texto... Não é assunto fácil de ser abordado. Portanto, resta agradecer a partilha a Katia Chiappini, bem como louvar o seu estro. Abraços e beijos do poetinha JM.

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  3. O poema parte do autor e vai em busca do outro. Eu diria que, como bela oferenda, vai ser um pouco de cada um que o lê. Sem deixar de ser fruto do autor. Interessante questão, Katia! O meu abraço. Beatriz

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  4. OBRIGADA. POETA JOAQUIM MONCKS E POETISA BEATRIZ MECKING

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