O MAESTRO VILLA LOBOS

                O MAESTRO VILLA LOBOS

O maestro Villa Lobos ministrava suas aulas no Conservatório de Música, no ano de 1952, na praia vermelha, na cidade do Rio de Janeiro. As aulas eram de canto orfeônico e os professores de todo o território nacional buscavam suas habilitações para lecionar e o respectivo registro.
O maestro trabalhava o canto coral, a teoria, o solfejo, a percepção musical,  o ditado das notas, a leitura da partitura, especialmente em clave de sol. Mas dava especial importância à leitura de uma pauta ,à primeira vista, ou seja, olhar para as notas da pauta e sair entoando o som correspondente aos exercícios.
O maestro era temperamental, exigente tanto quanto competente.
Esse era um curso de pós-graduação. O Conservatório contava com uma equipe de , aproximadamente, 20 professores para dar suporte ao trabalho do maestro.
A equipe de professores ministrava aulas de Língua Portuguesa, História da Música, Pedagogia, Sociologia, Psicologia, Moral e Cívica, didática especializada para canto coral, entre outras disciplinas.
O maestro fazia questão que soubessem o Hino Nacional, letra e música, interpretação do texto e correção gramatical impecável.
Ao final de cada ano letivo o maestro se apresentava com sua orquestra, ao ar livre, tocando hinos pátrios, canções folclóricas, músicas do cancioneiro popular. Os índios cantavam em tupi-guarani e os padres cantavam em latim. O coral cantava em 6 vozes.
Em determinada ocasião, uma professora usava truques desonestos para prejudicar a turma e não deixar que fosse aprovada nos exames. Entoava uma nota, trêmula ou em falsete, por exemplo,para confundir o aluno que estava procurando o tom da música ,em canto coral.
E se tornou necessário relatar o fato ao presidente Getúlio Vargas para que interferisse e intermediasse essa situação, interditando a referida professora. E realmente, ela foi afastada de suas funções, sem demora.
O maestro Villa Lobos convocou a classe para demonstrar suas habilidades e as reuniu no auditório.
Tratava-se de fazer a tal leitura, à primeira vista. 
Como a turma ainda não estivesse pronta para tal exigência, não tinha a capacidade de sair solfejando e entoando as notas da partitura surpresa.
Ao perceber que, uma aluna após a outra, estivesse errando o som das notas, não demorou muito, começou a gritar, furioso, com a turma, já atemorizada. E,sem mais explicações, o maestro se retirou do recinto e bateu a porta sem olhar para trás.
Uma das alunas se levantou e sugeriu que a turma fosse embora também, sem esperar o término das aulas do dia.
E, diante dos olhares de dúvida de suas colegas, justificou;
- Vejam, colegas, o maestro acaba de virar lobo

                                  KATIA CHIAPPINI