inspirações: ANTIGUIDADES

terça-feira, 1 de junho de 2021

ANTIGUIDADES

ANTIGUIDADES E HÁBITOS CONSERVADORES.

A casa de minha avó era ornamentada com antiguidades e mimos de rara beleza. Havia castiçais de prata ,porcelana inglesa, relógio que soava de hora em hora:  um deles era  de parede e outro era um móvel apoiado no solo. Havia elevador interno em algumas residências, como na de minha tia Lainha Godoy, irmã de meu avô, para facilitar a locomoção, visto que a casa tinha três andares. E havia telefones até no banheiro para ser usado, eventualmente, se os moradores esquecessem seus sais de banho ou sua toalha.
Quando me casei, minha avó me presenteou com um jogo de porcelana, vindo da França, contendo 12 peças de pratos rasos e fundos e de sobremesa. As bordas eram douradas e o desenho ,nos pratos, era de uma delicadeza ímpar.
Na casa de vovó nós despertávamos com a claraboia, de vidro, colocada no teto, entre a cobertura de telhas.
Talvez, a intenção fosse a de acordar a família para tomar o café da manhã, servido bem cedo. E contando com a presença de crianças e adultos ao redor da grande mesa.
Na estância de meus tios.  um sino tocava para chamar para a hora do almoço.
Tanto na casa de meus avós como na de meus tios, ninguém se servia antes do dono da casa. E a dona da casa também servia cada uma das pessoas presentes, para depois se servir. E se uma criança quisesse repetição, ela se levantava e servia novamente. E não era quebrado o protocolo.
As atendentes ou secretárias, eram chamadas de criadas.
E recebiam seu avental e cobertura para a cabeça, antes de iniciar seu trabalho.
E, se fosse preciso sair com a patroa, tinham outro uniforme para trocar.
Muitas delas se tornavam pessoas da família e criavam seus filhos, como nas casas das estâncias, onde o trabalho justificava essa iniciativa.
Os móveis, eram de madeira nobre com esculturas em alto relevo. Os puxadores dos móveis podiam ser diversificados. Os mais refinados podiam ser de cristal diamante com base dourada.
Eles eram utilizados em armários ,guarda roupa, rack, cômoda, móveis de escritório, penteadeiras e outros.
O chão era feito de parquet de madeira com aplicação de sinteko para dar brilho e acabamento perfeito.
Algumas casas tinham pequenas capelas ou oratórios para congregar os presentes, convidando-os a participar da hora
 da Ave Maria, às 18 horas.
Os antigos, de nobres família, guardavam as joias em cofres bem escondidos .Mas, ao contrário de hoje ,costumavam exibir, com frequência, seus colares, pulseiras e anéis, com naturalidade. 
As crianças frequentavam a missa dominical com suas famílias. Eram dadas orientações para participar da catequese e da crisma. E o batismo era o primeiro sacramento e o de maios significado.
Os carteiros, jornaleiros e açougueiros entravam casa a dentro procurando a dona para deixar seus volumes. A porta ficava entreaberta, durante o dia.
As matinês dominicais eram o melhor programa para as crianças. Nas sessões de cinema havia a possibilidade de assistir dois ou três filmes na parte da tarde, pagando um só ingresso.
As famílias se reuniam , na calçada, ao entardecer, sentavam em suas cadeiras preguiçosas e desfrutavam de um agradável convívio. Alguns levavam o chimarrão para abrilhantar a reunião.
E as crianças ficavam brincando, pulando amarelinha ,trilhando corda, bem próximas de seus pais.
Havia uma vestimenta que se chamava roupa de gala e que as colegiais vestiam para desfilar no dia da pátria, ou em eventos especiais ,nas Escolas,
Nos demais dias deviam portar uniforme para se apresentar nas aulas, durante o ano letivo.
Minha vovó gostava muito de esperar seus netos, nas férias, com compotas de várias frutas, ambrosia, doce de ovos, fios de ovos e outras especialidades, que eram servidas durante o café da tarde.
As famílias preservavam os momentos vividos ao redor da lareira, ou junto ao fogo de chão, aguardando o churrasco a ser servido, às vezes, em mesas rústicas, no pátio da casa.
Naquelas grandes mesas com cadeiras de madeira e um grande cavalete colocado sobre um suporte.
Os casais viviam muitos anos ao redor de filho e netos. Certamente, contornando alguns problemas, mas apostando na conciliação.
Saudades de tempos antigos e abençoados!
Saudade de tempos de amigos leais!
Saudade do colo de meus avós e das histórias de vida dos antepassados, imigrantes que fugiam das guerras para outro país acolhedor. 
Essas lembranças permeiam minha mente. E a lembrança desse tempo de infância, continua a ser um bálsamo e um lenitivo natural, de valor estimativo e insubstituível, em meu avançado e já mais lento caminhar.