Aquarela de poesias

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Poesias para você

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

DONA MIMOSA!

          DONA MIMOSA E SUA ESCOLHA

Dona Mimosa era uma senhora de 82 anos, quando passei a observar como vivia após sua viuvez. Era uma pessoa alegre, vivaz, agradável ao trato e uma dona de casa com dons especiais. Era excelente costureira, o que se tornou  motivo de prazer. Preferiu se cercar de atendentes e serviçais que dormiam em sua casa, num anexo situado após o pátio da residência. Aos domingos toda essa turma se deslocava para um sítio e o dia passava rápido para D. Mimosa.  Aos sábados ia para um restaurante e levava seus auxiliares para companhia.  Eram copeiras, cozinheiras, um jovem jardineiro, uma atendente de enfermagem, uma lavadeira e passadeira.
O ecônomo do restaurante começou a observar esse movimento inusitado e tomou conhecimento de toda a situação  Começou a cercar D. Mimosa com flores e atenções. No dia de seu aniversário ofereceu um menu especial e fez questão de pagar todas as despesas, inclusive as de um especial cardápio de sobremesas, para ela e sua turma de empregados.
Quando o Cirque du  Soleil se apresentou na capital dos pampas, lá estavam D. Mimosa e o ecônomo assistindo ao espetáculo. Ela ganhou um telefone celular para se comunicar com o seu recente ''admirador'', conforme me disse. Não demorou muito e o homem a convenceu de vender uma casa de três andares. Foi morar em outra casa com as irmãs do ''admirador'' que a instalou devidamente, mas optou por dormir em outro apartamento que tinha mobiliado para si.
D.Mimosa tem bens: casas, terrenos, residência na praia e um pensão do marido, juiz de carreira, além de joias e alguns dólares guardados. Dispensou os empregados e passou a pagar as irmãs do companheiro para lhe atender. Ficou apenas com uma moça de sua confiança que houve por bem conservar.
Houve uma espécie de contrato entre as partes, mas D. Mimosa tinha sua privacidade preservada e não houve comunhão de corpos.
Mas aceitou a'' proteção'' que o companheiro lhe dava, sua atenção e cuidados. Esse era atento às suas necessidades e tão atento que colocou parte de sua atenção nos bens da viúva.
Na venda da casa já lucrou e depositou uma comissão considerável em sua própria conta. E agora se diz administrador de seus bens.
Mas essa senhora recebe a pensão mensal e só com essa retirada garante sua tranquilidade.
Trocou qualquer preocupação de ordem material, pela companhia e atenção desse companheiro de 60 anos de idade que dela se aproximou com interesse de se beneficiar com sua fragilidade.
Mas, fazendo justiça, devo dizer que esse homem a leva ao médico, às compras, ao cinema, teatro, jantares. E aos finais de semana se dedica a estar com ela na casa de Ipanema.
D. Mimosa fez sua escolha: preferiu estar em família, uma nova família, do que seguir rodeada de empregados.
Trocou sua liberdade por algumas atenções e pouca se importa com o capital que deixou de administrar.
Sabe que essa pessoa vai cuidar dela até os últimos dias e que vai seguir atento às suas necessidades.
Já transcorreram três anos e D. Mimosa não se arrependeu e segue satisfeita porque confirma que é muito bem tratada.
Assumiu todos os riscos dessa situação e desse novo modo de viver.
Deve ter entendido que o interesse em seus bens moveu esse homem e o colocou em sua trajetória.  Já ao final da trajetória de uma vida de mais de 80 anos, a dama preferiu não continuar na solidão e se adaptou à família que a trata com carinho e o devido respeito.
Só que deveria ter comprado um apartamento para cada uma das três netas, já que seu filho é policial aposentado e a dama complementa seu salário. Ou dispor de uma fração dessa pensão para auxiliar asilos ou orfanatos.
Uma noite dessas telefonei para D.Mimosa e ela ficou feliz e pediu que a visitasse
E me lembrei de tê-la ouvido dizer, em tempos idos:
- Se eu ficar viúva não quero ficar só.
Ainda a solidão lhe pareceu a pior das escolhas : pior do que morrer rica e sem ninguém que gostasse dela. E sem ninguém para ver seu cerrar de olhos, seu aperto de  mão, seu último desejo antes de ir.
Só que esse gostar implica em outras considerações que já tentei entender. Mas nem preciso entender nada porque  D. Mimosa, assim  escolheu sua maneira de ser feliz.
E esse filho de D.Mimosa é como se nunca tivesse existido: jamais teve consideração por ela. Uma triste e inexpressiva figura, eu diria.

                                     KATIA CHIAPPINI








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