Aquarela de poesias

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Poesias para você

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

DOUTOR?

     - QUERO SER CHAMADO DE DOUTOR

Alguns fatos pitorescos de nossa vida recordamos com alguma frequência.
Meu marido foi criado no interior de Santa Catarina num local chamado Ouro Verde e depois em Abelardo Luz, Xanxerê e arredores.
Estudou no seminário, que além de gratuito, era um bom centro de estudos, não se descuidando dos princípios básicos da Teologia e Filosofia. Em verdade, os meninos que iam para lá tinham como objetivo a carreira religiosa: um desejo comum dos pais que moravam no interior e ainda de família com descendência italiana. 
Mais tarde veio morar em Porto Alegre para cursar universidade.
Estudava e trabalhava e pouco tempo tinha de lazer. E mesmo que tivesse tempo não teria dinheiro sobrando para nada que não fosse alimentação, transporte e livros didáticos solicitados.
Com empenho venceu todas as etapas e obteve seu diploma universitário.
O pai de meu marido pode ser considerado um visionário porque mandou os filhos, um a um, para Porto Alegre. Isso numa época em que os outros cidadãos preferiam manter os filhos em casa para trabalhar nas plantações, nos caminhões que transportavam as mercadorias para vender na cidade. As verduras e hortaliças supriam os supermercados.
Mas meu marido, já formado, tratou de alugar um escritório para começar a trabalhar.
Nesse começo de carreira, costumava chegar em casa e dizer:
- Quero que me chamem de doutor.
E eu lhe dizia:
- Não se preocupe que esse dia vai chegar.
Em certa ocasião estávamos veraneando na praia de Torres quando encontramos meu primo com a esposa.
A conversa corria solta quando um cidadão se aproximou de nós e se dirigindo ao meu primo, começou a conversar com ele.
Meu primo, pensando em exercer o princípio da cortesia, chamou o cidadão para apresentar formalmente ao meu marido dessa forma:
- Esse é o síndico do edifício: o senhor Lauro
E, logo a seguir, apresentando o meu marido para o síndico falou:
- Esse é o Antônio. 
Meu marido deu um sorriso sem graça e apertou a mão do síndico, displicentemente, tratando de se despedir de meu primo. Logo em ato contínuo, me convidou para irmos para casa.
A primeira expectativa de ser apresentado como doutor havia falhado. Nem preciso dizer que meu marido odiou meu primo que ao apresentá-lo a um síndico, que nem cursara o ensino fundamental completo, não foi capaz de dizer:
- Esse é o Dr. Antônio, marido de minha prima.
Mas isso foi logo esquecido porque meu primo nem teve a intenção de ser ofensivo.
E o tratamento de doutor veio com o desenvolvimento dos trabalhos, com a satisfação da clientela, com o empenho que meu marido demonstrou na profissão, com as causas ganhas. 
Importante é dizer que convidou outros jovens recém formados para orientá-los nas primeiras petições, assim como tinha sido orientado por um colega mais experiente, durante dois anos consecutivos.
Meu marido conseguiu se estabelecer, progredir e se responsabilizar pelo sustento de nossos filhos e pela sua educação. Hoje, todos estão formados e desempenham suas funções e atuam com dedicação em suas áreas. E se formaram em cursos universitários também. 
Hoje, meu marido tem a satisfação de cumprimentar antigos clientes que ao passarem por ele, risonhos e afáveis, respondem ao cumprimento, educadamente, dizendo:
- Que satisfação encontrá-lo Dr.Antônio!

KATIA  CHIAPPINI

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