Aquarela de poesias

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Poesias para você

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O NASCIMENTO DE MINHA FILHA!

               O NASCIMENTO DE KARINA


Quando minha filha nasceu eu pouco sabia sobre o assunto.
Então adquiri um manual de instruções sobre o desenvolvimento do parto e recomendações relevantes.
Minha sogra veio de Santa Catarina para me prestar ajuda. Tinha sido parteira prática mas seu desempenho era perfeito. E chegava a viajar de carroça, em estradas íngremes, para atender ao chamado da hora do parto, de suas comadres, num interior brabo, desprovido das mínimas condições de conforto.
Foi iniciativa dela vir me ajudar em Porto Alegre mesmo deixando o marido um pouco adoentado. Pediu a uma vizinha que desse uma reparada nele e se notasse algo estranho telefonasse para o filho mais velho. 
Minha sogra e eu tratamos de preparar nossas malas de hospital e eu ajeitei a sacola do bebê. Deixei bem à vista todos os preparativos e a carteira com os documentos e o dinheiro já em cima da geladeira, para ainda pensar se faltava algum papel importante.
Meu marido se deslocava para atender causas jurídicas pelo interior e nem sempre se encontrava no escritório da cidade de POA.
Uma tarde, enquanto minha sogra e eu tomávamos mate amargo, comecei a sentir, repentinamente, dores fortes que faziam com que eu me dobrasse ao meio. Minha sogra percebeu e mandou que me preparasse para ir ao hospital E ficou me cuidando em meus gestos.
Então tivemos o seguinte diálogo:
 - Sogra, eu estou, agora, com dores violentas!
- Então vamos pegar um taxi, imediatamente.
- Mas deixe eu olhar o livro da hora do parto.
- Que livro? não senhora.
- Mas tenho que contar no relógio o intervalo das dores para saber melhor se é a hora.
- Deixe disso, nunca precisei de livro para saber a hora.
- Mas o livro...
Nem consegui completar a frase e a sogra me puxou bruscamente pela mão como se quisesse me acordar para a realidade. Tirou o livro de minha mão, pegou as malas, abriu a porta de saída e chamou o elevador: tudo com rapidez e determinação. A seguir chamou o táxi por telefone que não tardou a chegar.
Eu pedi ao motorista que fosse devagar e minha sogra retrucou e pediu, por sua vez, que aumentasse a velocidade.
Quando o táxi parou na frente do hospital percebi que havia esquecido de colocar a carteira de dinheiro na minha bolsa.
O  motorista perguntou:
- Como faço para receber?
- Espere pelo meu marido que já foi avisado.
- Mas e as corridas que vou perder?
- Faça como quiser
Não dei mais atenção ao taxista e entrei para o hospital com a sogra já me dirigindo para a sala da higiene preliminar, se antecipando com decisão e explicando a situação, ao entrar.
Deitei na cama para ser preparada e comecei a gritar de dor. Estava na hora, tive certeza. Gritei, apavorada e segui gemendo bem alto.
Escutei a voz do meu marido falando para minha sogra:
- Mamãe, é a Katia que grita
- Sim, é normal, filho.
- Você encontrou o taxista? 
- Sim, dei-lhe uma régia gorjeta e sorriu satisfeito.
Nesse instante ouvi a voz da sogra dizendo ao meu médico:
- Ligeiro, doutor.
O médico tardou devido a uma forte chuva que deixou o trânsito mais lento. Chegou e viu que um médico residente já tinha feito o parto. Mas chegou a tempo de costurar, observar se a placenta tinha saído por inteiro e os demais detalhes.
A iniciativa de minha sogra estava absolutamente correta.
Minha filha nasceu com quatro voltas de cordão umbilical apertando o pescoço e forçou seu próprio nascimento que se deu uma semana antes do esperado, pelos nossos cálculos.
Nasceu com peso de criança prematura mas chorou logo que levou as primeiras palmadas que necessitou para voltar ao normal.
Voltamos com o bebê para casa. Recebemos muitas visitas durante a primeira semana. Tanto eu como meu marido tínhamos um círculo de amizades expressivo devido ao trabalho que desempenhávamos. Não se podia descansar e mesmo, só a saúde de minha filha me preocupava o tempo todo. Eu precisava dar meu peito até que ela sugasse todas as gotinhas, com muita paciência. Os nenês dormem no meio da mamada e as mães precisam acordar, de mansinho, para seguir alimentando, sem pressa, como se cumprissem um ritual em todas as suas etapas.
Minha sogra ficou comigo sete dias e depois precisou voltar. O marido precisava de seus cuidados.
E minha mãe costumava vir na parte da tarde para me fazer companhia. Eu tinha o hábito de levar mamãe até a esquina da parada de ônibus, sempre que ia me visitar.
Mas logo que minha sogra viajou, recebi, como sempre, a visita de minha mãe, na parte da tarde. Nesse horário eu aproveitava para dar banho na minha filha e mamãe me ajudava a alcançar os apetrechos todos.
Fui levá-la até a esquina como sempre, ou quase isso. Percebi que havia deixado a filha sozinha no berço. Voltei correndo e nem mamãe se lembrou de sua neta. Graças ao bom Deus, encontrei a filha ainda dormindo como um anjo adorado. Depois desse dia, ao acordar, pedia perdão a Deus pelo meu esquecimento, embora breve.
Mas adquiri consciência de minha responsabilidade e de minha atenção constante como mãe. Senti que algo se modificou dentro de mim e o sentimento materno se fortificou e tive certeza de meu amor pela filha de quem nunca mais me descuidei. Suas necessidades eram as minhas e meu amor era maior a cada dia em que percebia seu desenvolvimento.
Mas antes disso aconteceu outro fato que me deixou bem horrorizada :
- Preciso fazer compras.
E assim pensando fui sozinha ao supermercado com o meu bebê no colo. Escolhi os mantimentos e fiquei com as sacolas realmente cheias, penduradas nos braços e meu bebê no colo,agarradinho em mim Ao entrar no elevador me desequilibrei e me atrapalhei toda, não sabendo, à certa altura, quem estava caindo: as sacolas ou o bebê? Entrei em pânico e me abaixei de cócoras, aparei o bebê que se lançou em meus braços junto com uma das sacolas que escorregara. Não danifiquei nada mas entrei em casa suando e horrorizada com minha atrapalhação e com o risco que minha filha correu, de bater com a cabecinha no chão.
Só mesmo Deus para abençoar essa sua filha e serva tão imperfeita!
Mas nada houve e tudo se resumiu a um grande susto: o maior que já tive em minha vida: o fato mais inusitado que me aconteceu.
Levei minha filha ao pediatra, um mês após o nascimento, e recebi dele o maior elogio. Notei a surpresa estampada em seu rosto. Eu tinha conseguido que minha filha estivesse dentro do peso previsto, como se não tivesse nascido com peso de criança prematura. Estava com o peso excelente e o médico me abraçou emocionado.
Fiquei pensando o motivo de tê-la esquecido no berço e, com certeza, Karina ainda não fazia parte de minha rotina.  E isso explica o fato de eu não ter assimilado, internamente,que jamais poderia sair sem pensar na filha. Era um fato novo em minha vida. E minha rotina era levar mamãe até a parada do ônibus: essa era seguida sempre que ela vinha me ver.
Mas constatando a alegria do pediatra de Karina e tendo recebido muitos elogios por dar às mamadas o tempo suficiente, fiquei ciente de que estava caminhando na direção certa e que minha filha estava recuperada do impacto do nascimento. Era uma criança saudável, linda, gordinha e com olhos de jabuticaba: grandes e negros.
Hoje somos grandes parceira, além de mãe e filha.
Sei que quando eu faltar, ela irá contar aos meus netos, muitos acontecimentos que ficarão em sua lembrança, ao recordar nossas conversas, brincadeiras e passeios. Vou estar sempre com ela.
Somos, agora, confidentes, mulheres que lutam, cúmplices, amigas e unidas duplamente.
Além dos laços consanguíneos temos um elo espiritual, um cordão invisível que nos une e uma relação tranquila e prazerosa.
Somos mãe e filha unidas pelo amor mais bonito: um amor sincero e eterno.
Karina, minha filha, amo você de todo o coração e a tenho sempre em meus pensamentos. Sua luta está a exigir todos os seus esforços.
Mas, sempre que precisar estarei com você antes mesmo que me chame.
       UM BEIJO DA MÃE E VOVÓ: KATIA CHIAPPINI



3 comentários:

  1. PARABÉNS, KÁTIA, SEI QUE VC É UMA MÃO EXEMPLAR.
    VELEJADOR

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  2. SEI QUE VOCÊ NÃO ENCONTROU SEU MAR ÍNTIMO PARA NAVEGAR,MAS ESPERO QUE POSSA CONFIAR EM SEU VERDE MAR.: ELE JÁ EXISTE

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