Mamãe já estava na casa geriátrica e sem falar e sem conhecer ninguém. Quando eu a visitava costumava ficar com suas mãos entre as minhas. Mas tinha cansado de ficar falando sem sentido porque ela passou mais de quatro anos sem poder se comunicar. Já não falava mais dos netos, nem da família e nem de suas irmãs vivas, o que a deixava feliz. Mamãe estava com 90 anos e sua doença degenerativa não permitia que fixasse o olhar em pessoa alguma. Ela ficava aérea e parecia olhar para o nada. Mas minha visita era diária. Só assim teria certeza de que estava de banho tomado,bem penteada e com os dentes limpos.
Certo dia, ao chegar, antes que deixasse suas mãos entre as minhas,percebi uma lágrima em seus lindos olhos verdes. Fiquei emocionada e apertei mais suas mãos. Ela respondeu e senti a força de uma de suas mãos apertando a minha. Olhei para ela e as lágrimas brotaram de tal forma que molharam sua roupa. Nesse instante acariciei o seu rosto. Beijei sua face e rezei em voz alta. Mas fiquei com muita pena de não poder fazer nada por ela: doeu profundamente.
Esse acontecimento foi um fato isolado. Nunca mais mamãe fez outro gesto que denotasse alguma energia em seus braços e mãos.
E seu corpo estava encurvado, a cabeça pendia para um só lado e as mãos e pés estavam se entortando.
E esse aperto de mão me parecia um grito de socorro, como se quisesse falar:
- Minha filha, não me abandone!
E minha única certeza é a de ter feito o impossível para que nada lhe faltasse durante os 6 anos de sua doença.
Cumpri com o meu dever de filha muito mais por carinho e agradecimento do que por obrigação.
KATIA CHIAPPINI
MINHA MÃE FOI GUERREIRA E FIRME EM SUAS DECISÕES E A GRANDE MULHER AO LADO DE MEU PAI.
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