Aquarela de poesias

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Poesias para você

sábado, 30 de maio de 2015

UMA IDEIA QUE DEU CERTO: MINICONTO.

               UMA IDEIA QUE DEU CERTO.

Branca de Neve era o apelido de um traficante, e chefe de gangue, que estava chamando os alunos, de quinta a oitava série, na hora do recreio, no portão, com o intuito de vender maconha. Eu era a vice-diretora da escola e percebi que a situação estava amedrontando a comunidade.E alguns pais estavam receosos de enviar os filhos para a escola.
Não tive a colaboração do zelador e nem do professor de educação física da escola. E me aconselharam a chamar a polícia .Mas não foi o que eu tinha decidido fazer.
Numa tarde qualquer, resolvi, para ficar em paz com minha consciência, chamar o Branca de Neve:
-Você quer um lanche com um copo de suco de laranja?
- Sim, diretora
Nem preciso dizer que mandei caprichar no cachorro quente e pedi para colocar um bife, queijo, maionese, alface, tomate e temperos.
Enquanto ele se alimentava com entusiasmo, pedi-lhe que se afastasse do portão da escola. Mas disse-lhe que as crianças não podiam conversar com estranhos e que ele e sua turma estavam atrapalhando o movimento dos transeuntes que precisavam entrar pelo portão, a todo momento. Falei sobre o lixo que jogavam na calçada, sobre o fluxo normal dos veículos que seria prejudicado, sobre a algazarra que estavam fazendo, junto ao estabelecimento de ensino regular.  Usei todas as argumentações possíveis, menos a de que suspeitávamos de tráfico de drogas.
Em dado momento falei;
-Branca, temos brigadianos circulando pelas redondezas. Ele controla a entrada e a saída dos alunos.
- Se é assim, diretora,vamos sair da frente do portão porque a senhora está pedindo. Ficaremos na quadra seguinte, onde não há escolas.
- Mas não poderia ficar bem mais longe?
- Não porque tenho uma nova missão.
- Mas não se preocupe comigo!
- Não, diretora, vou dar-lhe proteção: pode precisar de mim.
 - Não é necessário.
- Engano seu .Quem passa todo o dia na escola não conhece o perigo que há nas ruas.
E assim dizendo, agradeceu o lanche, apertou minha mão e se despediu.
Mentalizei, muitas vezes o gesto de Branca, me abraçando pelos ombros e dizendo que eu poderia chamá-lo a qualquer hora, em qualquer circunstância de perigo ou de briga na escola.
O máximo que consegui foi transferir a gangue para a próxima esquina. Mas já foi um começo!
Enquanto viver vou lembrar de que ao menor chamado teria ao meu lado um protetor insólito, ''sui- gêneris'', pouco convencional, mas cumpridor de sua palavra -pelo meno- aquela empenhada a quem lhe deu um tratamento humanitário.
E tenho a certeza de que na vida de Branca de Neve, não passei em ''brancas nuvens''.

                                   KATIA CHIAPPIN
                     -E-MAIL:katia_fachinello42@hotmail.com


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