Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

CASAS ANTIGAS

                        CASAS ANTIGAS


                                  Casas Antigas
Minha vó morava numa casa antiga.
As lembranças são presença em minha infância e adolescência.
Nas férias de inverno eu e meus primos passávamos uma temporada com vovó e essa casa nos parecia repleta de mágicos recantos.
Os móveis eram feitos de excelente madeira e bem trabalhados nos detalhes.
O relógio era um armário grande e o pêndulo gigante e sonoro cantava as horas.
Vovó tinha um rito especial na hora do banho e demorava com sua higiene pessoal. Acomodava-se na enorme banheira com seus sais de banho e lá permanecia um bom tempo.
Minha avó era excelente no preparo dos quitutes.
Havia uma variedade de doces em compota e fechados com tampa de pressão.
Para o lanche da tarde a mesa já ficava posta e uma toalha cobria as cucas, o pão caseiro, bolos e pudins.
Nos quartos havia clarabóia e a luz já entrava cedo para acordar meus primos e eu
Vovó era rígida com horários das refeições..Deviamos estar todos juntos ao redor da mesa, aguardando vovô se acomodar na cadeira que ficava numa das pontas da mesa. Vovó servia primeiro o prato de vovô e depois os demais, um a um.
Depois do almoço o casal ia dormir um pouco e devíamos fazer silêncio.
A casa tinha dois pátios grandes com pomar e horta. Gatos, cachorros e galinhas circulavam livremente e algumas redes eram colocadas para o lazer.
A porta da frente ficava entreaberta e dava acesso ao carteiro, ao açougueiro e ao leiteiro. Esses percorriam o corredor que atravessava a casa e iam procurar vovó na copa ou na cozinha.
A hora da Ave Maria, perto das 18 horas, podia -se ver minha avó sentada em sua cadeira de balanço dedilhando o terço.
Esse era o horário de suas preces e também devíamos guardar o silêncio.
Meu avô era muito amoroso e deixava a educação dos filhos aos cuidados de vovó. Dizia que dela era a palavra final.
Vovô passava o dia na casa ao lado, também da família, onde tinha seu estabelecimento comercial: uma farmácia com laboratório para manipular medicamentos.
Quando eu estava com vovô ele me deixava atender o balcão. E isso para mim era uma grande aventura.
Eu sabia encontrar os remédios nas prateleiras e atendia o público com toda atenção. Só não atendia na caixa registradora e não lidava com dinheiro.
À noite, as cadeiras preguiçosas eram colocadas na calçada e o chimarrão era presença obrigatória. Os vizinhos iam chegando e ajeitando suas cadeiras. As pessoas conversavam sobre seu dia de trabalho, sobre a Escola dos filhos e outros assuntos domésticos.
A porta da casa ficava só encostada para que os jovens pudessem entrar após alguma saída noturna. O último a entrar deveria chavear a porta.
Se vovó precisasse de alguma volta de rua, qualquer um de nós, seus netos, deveríamos atendê-la sem pestanejar.
Nesse clima tão familiar nos sentíamos amados e dávamos valor à dedicação de nossos avós. Se queríamos levar uma amiga ou um amigo para ficarem hospedados na casa de vovó, durante as férias escolares, era só combinar com ela.
Mas,apesar da bondade e ternura para com os netos, vovó exigia boas atitudes e o cumprimento dos horários estabelecidos. Não se discutia com nenhuma ordem dada. Não era de bom tom brigar na casa de vovó e palavrões eram proibidos.
Os netos mais velhos deviam cuidar dos menores e ajudar na hora do banho ou das refeições. Ou contar histórias na hora de dormir. Ou colocar o pijama para preparar a turma para dormir, ou ajudar os pequenos a escovar os dentes.
As casas antigas tinham local para agregar a família.
As lembranças dessas vivências são as melhores de minha infância
Vovó e vovô iam nos buscar na estação de trem.
Lembro-me sempre da alegria dessa casa e da fartura das refeições.
Lembro-me dos conselhos de meus avós e das orientações para enfrentar os desafios.
Essa era uma casa grande.
Mas não era só uma construção de cal, cimento e argamassa.
Era uma construção mais profunda que de casa se transformava em lar. E as bases sólidas da formação do ser humano eram requisitos fundamentais para que pequenos seres se transformassem em homens responsáveis e orgulhosos de suas responsabilidades como verdadeiros cidadãos.
Saudades dessa época de ouro, onde o caráter e os bons princípios eram preceitos respeitados em nome de um viver solidário.
Saudade da vida simples em família, de braços que sabiam abraçar, de olhos que sabiam ver, de ouvidos que sabiam escutar, de palavras amigas.
Saudades de uma vida pra viver!

Kátia Chiappini

3 comentários: