Aquarela de poesias

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Poesias para você

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

RELACIONAMENTOS

                          RELACIONAMENTOS


RELACIONAMENTOS EM CRISE
Encontramos nossos amores tão rápido como nos desencontramos deles.
Parece até que o amor se tornou a arte do desencontro.
Casais se relacionam aos finais de semana, algum outro dia da semana. E voltam para suas casas paternas, onde moram por longo período.
Depois de certo tempo resolvem casar, depois de uma vida em comum, em casas separadas. Mas, acho que se assustam, um com a presença do outro, no dia a dia, resolvendo esse impasse com a separação.
Não se percebe a intenção de conversar, de rever e dimensionar alguns comportamentos, de ceder, mutuamente, de harmonizar as crises e ir superando obstáculos com maturidade e vontade de acertar.
Na separação, os casais não poupam os filhos.
O pai convida o filho para jantar e só fala mal da mãe da criança, o tempo todo. O filho fica entre os dois se sentindo um fantoche.
Os filhos sofrem calados, choram nos cantos, recolhem as fotos do casal, para vê-los juntos. Os filhos esperam pelo pai no portão da casa e se sentem ansiosos e infelizes quando o pai faz uma ligação telefônica dizendo que não irá mais. E as desculpas se sucedem e frustram os filhos.
As mães criam os seus filhos com dificuldade, assumem a direção da casa e todas as responsabilidades. Pois a pensão que deveriam ganhar, vem nos primeiros meses e depois costuma desaparecer. E, muitas vezes, a mãe desiste de denunciar o pai. Prefere ganhar algumas migalhas, como um par de tênis, uma roupa, vez ou outra, do que ''quebrar os pratos'' definitivamente.
Mães criam seus filhos e perdem a esperança de constituir nova família, pois muitas vezes, seu novo namorado não quer assumir essas crianças que não são dele.
E, não raramente, os companheiros propõem que mães abandonem seus filhos com algum familiar e sigam com eles em nova moradia.
Há mães que se deixam iludir e fazem a escolha errada. Depois, quando percebem que o companheiro não presta, tentam resgatar o amor dos filhos e não mais conseguem. A ausência desfaz o amor filial e deixa mágoas profundas.
Há muitos homens morando sozinhos e se aventurando com mulheres diversas, apenas ficantes e amantes.
Há muitas mulheres morando sozinhas, com os filhos já casados e independentes. E chegam ao entendimento de que morar consigo mesmas, vale mais à pena para ter sua liberdade não vigiada e uma certa tranquilidade que os relacionamentos teimam em tirar.
Mas, fomos feitos para viver em sociedade, em coletividade, em família .Fomos feios para criar vínculos ,educar os filhos de comum acordo. assumir, em conjunto os papéis maternos e paternos.
Em contrapartida, hoje, os casais têm vida dupla, quando um espera o outro sair de casa e vai para frente do computador se relacionar virtualmente. E não se dão conta de que essa situação ilusória pode se transformar em tragédia.
E essas pessoas que assim preferem se relacionar, ficam sem noção da realidade, se apaixonam sem conviver, criam ilusões que logo se transformam em sofrimento, dada as decepções que se sucedem como jatos d'água a jorrar, sem fim.
O egocentrismo está em alta e o altruísmo se perdeu nas esquinas da vida.
Há pessoas que passam a vida se sujeitando a ser a segunda opção de um homem casado e que jamais irá deixar seu lar e filhos por uma ou outra companheira que já foi avisada de que nada pode exigir. E essa carência faz a pessoa entrar e sair pela porta dos fundos.
No mundo moderno não há lugar e nem tempo hábil para exercer a conquista, escolher flores e bombons, olhar para um rosto expressivo e entender a mensagem que quer deixar transparecer. Valorizar o ser humano como alguém digno de respeito e consideração parece ter se tornado utopia.
As relações são etéreas, meteóricas, oscilantes e falsas.
Os casais que costumam sair juntos, como amigos, não raro se tornam amantes, um da mulher do outro.
O descontrole é total e as orgias ( troca de casais ) estão na moda e são consideradas uma ''evolução''. Mas que espécie de evolução é essa que destrói famílias? Que leva ao suicídio? Que submerge num mar de lamas? E que no final da vida traz a solidão como par constante? Que evolução é essa que retrocede à Idade Média?
E que empoderamento feminino é esse que lhe subtrai o direito de ser respeitada? Que mania é essa de falar que o empoderamento da mulher é top?
Relacionamentos são uma loteria remota e quase inacessível.
Creio que precisamos embarcar na arca de Noé, desde que queiramos ser salvos. E desembarcar em outro mundo promissor, livre de tantos impostos e pleno em espírito humanitário.
Precisamos encontrar outra Eva, ou outro Adão, noutra civilização.
Precisamos retomar os verdadeiros valores, o caráter, a cumplicidade, o altruísmo, o companheirismo, a justiça social.
Precisamos que as leis não condenem os pobres e livrem das penas os abastados e manipuladores.
Precisamos de uma roda de mate amargo, de um carteado, de um churrasco de fogo de chão, de uma prenda carinhosa, de um gaúcho hospitaleiro, de uma orquestra de tangos e boleros, de um acampamento na mata, do som dos pirilampos, das luzes dos vaga-lumes.
Precisamos de um acordeon tocando as músicas de Edith Piaf, de um piano interpretando Richard Clayderman, de Procópio Ferreira declamando ''As mãos de Eurídice'', monólogo que o consagrou como grande ator de teatro. Precisamos, de sua filha, Bibi Ferreira, invicta nos palcos, já aos 90 anos de idade. Precisamos reencontrar Paulo Autran e Molière em ''O Avarento'', interpretando Harpagon, o sovina, ainda aos 84 anos de idade.
Precisamos assistir ao balé clássico de Bolshoi, voltar a assistir ''A Noviça Rebelde'', ''A Dama das Camélias, ''O Poderoso Chefão'',''A Dolce Vita'', ''O Morro dos Ventos Uivantes'',''12 Anos de Escravidão e os inesquecíveis musicais do cinema americano, destacando-se Fred Astaire e Ginger Roger ,no sapateado.
Precisamos meditar, recuperar a autoestima, exercer o espírito de coletividade, aceitar se dedicar a um trabalho voluntário. Precisamos voltar a amar para sermos amados.
Precisamos de um sapatinho de cristal para calçar em mimosos pés.
Precisamos de duendes, fadas, mágicos, palhaços.
Precisamos bem mais do gênio da lâmpada do que dos 40 ladrões.
Precisamos de nós mesmos, bem como precisamos de dois travesseiros, de uma cama de casal perfumada. E de lençóis de linho, contendo monogramas bordados com ponto cheio.
Nem que seja em forma de um sonho fantástico enquanto a realidade não nos contempla. O importante é clarear o fundo de nossa essência e tornar possível uma evolução interior.
Que nossa preocupação seja a de buscar um novo olhar, um renascer, um novo caminho. Finalmente, um novo ideal, num mundo melhor em tons de verde-esperança ou de azul celeste.
E que os anjos, arcanjos, serafins e querubins concordem com nossos propósitos e digam amém.
E que coloquem nuvens sobre nossos pés!
KATIA CHIAPINI

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