Aquarela de poesias

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Poesias para você

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

MINHA INFÂNCIA:RECORDAÇÕES

MINHA INFÂNCIA


 DEPOIMENTO

MINHA QUERÊNCIA, ONTEM, HOJE E SEMPRE.
Esse relato emocionado, dedico aos tios Leo e Bebê e aos primos de minhas remotas e sempre vivas lembranças: Vera Brochado,Ronaldo Brochado :Beatriz Brochado,Bento Manoel Romariz Brochado,Luciano Brochado Ruffo Flores, Leandro Brochado, Helena Brochado Lazzaretti, Nelly de Almeida,Vânia Brochado,Mario Silva, Walter Silva Marilu Suarez da Silva,Ana Laura, Regina, Maria Camila ( filhas do Tio Sevi) minha tia escritora, Thereza de Almeida.
Aos primos Vanessa HB e Adriana Schmitt Casarotto e Claudio Schmitt e André Schmitt. Para a então menina,Luca Ferreira, que nos brindou com sua presença, junto com Geni Itamir Nast, a famosa e sempre querida ''Filinha'', grande amiga da família.
Aos filhos Tatiana Fachinello, Karina Fachinello e Iuri Fachinello e para Maria Fani Scheibel, grande amiga.
Não vejo mais as cores de minha infância quando cavalgava por campos e várzeas, córregos e pontes.
Guardo a lembranças desses pagos, desde a primeira vez que lá cheguei.
Refiro-me à Santana do Livramento, onde fica a estância São Miguel do Sarandi, fronteira com o Uruguai.
Os patrões eram os meus tios Léo e Bebê, pessoas carinhosas que me acolheram desde os meus 7 anos de idade, quando o Minuano, o trem da época, me transportava até a cidade.
Lá na estação rodoviária estava meu querido vovô Bica que me acenava de longe e que fazia questão de me esperar.
Eu costumava ficar alguns dias com meus queridos avós e depois meus tios me levavam para passar as férias, na casa da estância.
Uma das aventuras era acampar, longe de casa, onde se preparava a fogueira para espantar o bicharedo que rondava as barracas.
Costumávamos tomar banho nos riachos que cortavam a propriedade, usando boias feitas de pneus que eram acorrentados em árvores.
No domingo a comida era farta e tínhamos à mesa todo o tipo de iguarias campeiras. O churrasco se espalhava em travessas sobre a mesa grande. O feijão, feito com carne de ovelha, era um manjar dos mais saborosos e, certamente, eu não voltaria a desfrutar dele na cidade.
Na rádio local se ouvia o cancioneiro maior de nome Teixeirinha, cuja voz parecia ecoar no horizonte. Os Serranos, o Conjunto Farroupilha e os Irmãos Bertussi, eram os grupos musicais gaudérios de sucesso. Mas sempre havia um declamador para apresentar os versos de Jaime Caetano Braun, um pajador famoso nesse rincão.
Nos momentos de lazer a peonada frequentava os rodeios dominicais, jogava truco, ia pescar e contar os ''causos'' de galpão.
A prenda mais bonita era a minha tia Bebê, dama cheia de estilo e habilidades incontestáveis.
Minha tia Bebê empalhava cadeiras, costurava favos de mel na vestimenta do meu tio que fazia questão de usar bombachas.
Ainda pintava lindos quadros, tocava acordeon, fazia compotas de doces caseiros, bem como ''fabricava'' linguiça, sabão ,requeijão e coalhada.
À tardinha, quem quisesse poderia participar da roda de mate, pois era a hora do descanso.
A estância se tornou ponto de encontro obrigatório para meus primos e eu, que aguardávamos, com ansiedade, pelo período de férias escolares, a cada ano.
Em certa ocasião, meus primos e eu, aprendemos a preparar as ovelhas para a exposição anual. Nosso trabalho era pentear todas elas, de modo que o pelo ficasse solto, brilhoso e bem penteado.
Precisávamos pegar entre os dedos um pequeno chumaço de cada vez, abrir com os dedos e depois passar um pente especial, até trabalhar todo o pelo da ovelha. E quem terminasse sua parte recebia uma mesada do tio Léo. Cada tarefa feita tinha uma compensação monetária.
Outra tarefa gratificada, regiamente, era a de mexer os tachos de doces, sobre o fogo de chão. Os tachos continham, entre outras guloseimas, figos, abóboras ,batata doce. E era necessário mexer por longo tempo até chegar no ponto certo.
Cada um de nós ficava por 15 minutos mexendo os tachos e não era permitido ir para o final da fila para fugir da tarefa.
A estância tinha um gerador próprio, ao invés de luz elétrica.
Todos deviam se recolher aos seus quartos, às 22 h. E meia hora depois, era desligado o gerador.
Minha tia me emprestava um lampião à querosene para que eu pudesse ler um pouco antes de dormir.
Às 6 h da manhã deveríamos ir para a mesa onde o café estava servido. E deixar os quartos livres para que a copeira desempenhasse suas funções do dia.
Os horários das refeições, do banho, da volta para casa, depois das cavalgadas, deveriam ser observados e cumpridos à risca.
No dias de chuva ficávamos brincando com os jogos de tabuleiro. Ou inventávamos textos para apresentar em forma de peça de teatro, ou entoávamos trovas com acompanhamento de violão.
Essas são as melhores lembranças de minha infância e de toda uma vida.
Meus tios, Léo e Bebê, foram meus segundos pais e melhores amigos.
Gosto de pensar que desses dias tiro as forças das quais necessito para vencer as intempéries.
As lembranças da infância na estância São Miguel do Sarandi são as mais significativas e gratificantes para uma criança que cumpriu boa parte de sua vida num internato, tendo sua permanência com os pais e irmão comprometida.
Fui essa criança e meus tios tornaram possível essa convivência em família, entre os primos queridos.
Essa estância e seus encantos já vestiram as minhas rimas, trovas, contos e crônicas.
Ao final da tarde o Sol se recolhia para renascer envolto em insuperável beleza, bem como minhas lembranças me fazem renascer, a cada dia.
E essa gauchada hospitaleira reverencia suas tradições, assim como eu os reverencio.
Saudades de minha querência amada e inesquecível.
São Miguel do Sarandi permitiu que eu me desenvolvesse sadia, alegre, e gratificada com a convivência dos primos.
São Miguel do Sarandi é parte importante em minha visão de companheirismo, ternura e amizade.
Meus tios Léo Bebê foram elos preciosos a criar os laços de uma amizade duradoura e que me ensinaram a amar meu semelhante .
E essas lembranças me fizeram acreditar que a vida vale à pena.
E acredito, também, que as penas não sejam permanentes em nossa vida.

KATIA CHIAPPINI
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