Aquarela de poesias

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Poesias para você

domingo, 7 de fevereiro de 2021

SOBRE AS ÁRVORES

SOBRE AS ÁRVORES


 As árvores são essenciais para manter o equilíbrio do planeta. Elas  desempenham diversas funções, como o controle da temperatura, aumento da umidade do ar, controle das chuvas, controle da erosão, manutenção da biodiversidade. Além disso, dela se extrai a madeira para a fabricação de móveis, resina e outros materiais. As árvores nos alimentam com seus pés de laranjeiras, goiabeiras, figueiras,  E outras surgem com flores ornamentais, com vestes coloridas e pomposas. As árvores surgiram, antes, nas florestas. 

.A presença da árvore na urbanização das cidades data do século XVII. Londres e Paris foram pioneiras no cultivo  das mesmas. As Square Gardens e Boulevars são a prova disso. No Brasil. Recife foi a pioneira a urbanizar, seguida pela cidade do Rio de Janeiro, com o Jardim Botânico e o Campo de Santana. E pela cidade de São Paulo onde temos o Jardim da Luz e a Avenida Paulista.

Na Bíblia Sagrada temos a citação da Árvore da Vida ligada ao gênesis, como sinônimo de fecundidade e fertilidade. Considera-se, aos olhos dos cristãos, um símbolo da existência.

Árvores dão a sombra que atenua nossos momentos de caminhada, quando descansamos nos bancos colocados sobre elas. As pessoas de terceira idade apreciam ocupar os bancos das praças e o lazer em família. Às vezes, levam os apetrechos do chimarrão e convidam os amigos para desfrutar da natureza pródiga e reconfortante.

As árvores convidam os pássaros para fabricarem nela os seus ninhos. E esses habitantes nos deliciam com seus trinados maviosos.

Tenho algumas lembranças das árvores de minha infância. Minha tia Clementina, de saudosa memória, me convidava para ajudar a colher figos para a fabricação de compota caseira. Ela dizia que se colhe os figos quase de madrugada, antes que os passarinhos venham danificar a figueira. Colhíamos figos verdes e figos maduros: ambos são usados nas compotas.

Outra lembrança ligada às arvores me remete ao colégio onde estive, em regime de internato, durante um tempo de minha vida, devido às frequentes viagens que papai fazia, quando era convocado para abrir novas agências do Banco do Brasil, em diversas capitais.

Eu gostava de subir nas árvores que cercavam o colégio, em terreno de vasta extensão, Levava um livro para ler em total silêncio, uma lanterna e um lápis para marcar as passagens mais relevantes da obra. Esquecia das horas e ficava sobre os galhos mais firmes e me desligava do mundo, absorta em outros mundos de fantasia. Quando se aproximava o entardecer eu sumia para uma frondosa árvore e nutria a alma com as leituras de contos e poemas, que desde cedo me chamavam a atenção. Mas, uma das vezes, anoiteceu. E o céu sem estrelas deixou tudo escuro, menos onde eu me encontrava com minha lanterna acesa. As freiras do colégio me procuraram pelas áreas internas do prédio e ficaram assustadas com minha ausência.

Foram momentos de tensão e as demais internas também não sabiam que eu sumia em direção às arvores porque as considerava minhas amigas de fé. Em dado momento, ouvi um eco de vozes aflitas chamando meu nome, Tratei de descer da árvore para voltar ao convívio. A madre superiora me aguardava, furiosa, porque tinha uma responsabilidade a zelar: nossa segurança  e bem -estar no estabelecimento.

Desculpei-me como me foi possível, com argumentos infantis, concernentes a minha pouca idade. Fui castigada  e proibida de subir nas árvores, desse dia em diante.

Mas, tive horas de infinito prazer, onde me sentia livre da ingerência das freiras rigorosas e sisudas que me assustavam. E tenho mil razões para agradecer a Deus, pelas horas que desfrutei das leituras, ora lúdicas, ora informativas e de um breve tempo de livre escolha. Penso ter encontrado, nas árvores, meu ser essencial. quando me permitia ser eu mesma. E me levava a aprofundar sentimentos únicos, sonhos de juventude, planos existenciais.

Mas, sem sombra de dúvida, a árvore me remete à praça central da praia de Torres, no Rio Grande do Sul ,com especial emoção e muita saudade. É um aprazível recanto onde os músicos e cantores, os palhaços de rua e os capoeiristas se encontram para apresentações lúdicas e artísticas aos veranistas.

Essa árvore centenária e com a copa avantajada, abrigou minha mãe, já adoentada. Ela já acordava pedindo para ir até a pracinha, com sua cadeira portátil e um lanche leve para ser consumido no final da tarde. Nessa época ela já estava confusa e falava pouco, Precisava se locomover com um andador, pois a fraqueza das pernas era visível. Eu a colocava perto de outra senhoras idosas e ficava observando seu sorriso fácil ao apreciar a turbulência das crianças, a movimentação dos pássaros nos fios de eletricidade, o toque da harpa paraguaia e o som incomparável das flautas dos bolivianos. Esse passeio durava toda a tarde. Eu já havia combinado com o dono de um bar próximo, que levasse um café com leite para mamãe em dois horários previamente acertados. E lembrei aos funcionários do estabelecimento, que a porta do banheiro deveria estar sem chave, para que mamãe pudesse ter acesso livre. 

Sob a sombra da árvore minha mãe sentia a brisa refrescante e apertava minhas mãos para demonstrar seu encantamento. Minha colega de magistério, Eunice, levava sua mãe para a praça no mesmo horário e colocávamos as cadeiras lado a lado.

Ao perceber os olhares de mamãe para aquela paisagem acolhedora e seu semblante feliz, nem sentia o tempo passar. E as providências que eu precisava tomar antes de sair de casa, ou o pronto atendimento que mamãe exigia, nada me cansava.

O tempo ensolarado, a árvore hospitaleira, a natureza pródiga, tudo contribuía para o bem-estar de mamãe.

E nessas horas, em contato com as árvores de minha trajetória, acredito que cresci como pessoa, refleti sobre as premissas inerentes ao ser, sobre a razão de viver, sobre o porque de confiar na centelha divina. Refleti sobre como contestar sem agressividade, mas com firmes propósitos de ser ouvida com clareza e discernimento.  

E lembrando  Olavo Bilac, em Velhas Árvores, deixo livre sua imaginação:

'' Olha essas velhas árvores, mais belas /Do que as árvores moças, mais amigas/Tanto mais belas como mais antigas/ Vencedoras da idade e das procelas''...


                                      KATIA CHIAPPINI







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