Aquarela de poesias

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Poesias para você

quarta-feira, 12 de maio de 2021

RITO

RITO


 RITO

Rito é alguma ação que torna o dia diferente dos demais.
Há ritos litúrgicos, ritos processuais, ritos da maçonaria e das mais diversas crenças.
Podemos chamar de rito ao conjunto de cerimônias onde as pessoas se expressam por meio de gestos, símbolos, linguagem ou comportamento.
Se formos ao jantar da Empresa onde trabalhamos, precisamos usar os talheres adequadamente, os copos, a toalha de pano.
A tradição chinesa possui muitos ritos.
Em sentido amplo, podemos notar que os caçadores têm seu rito, os pescadores, os alpinistas.
E fico me perguntando onde estão os ritos do amor.
Acho que enveredaram por um beco sem saída.
Os ritos do amor não se fazem notar entre os casais modernos.
Estou lembrando das flores, dos perfumes, dos bombons, dos jantares à luz de velas, da escolha do melhor vinho, das constantes declarações de amor, do cartão manuscrito em letras góticas.
Falo da folha seca guardada no meio do diário, do primeiro CD, das mensagens de amor que uma amiga foi entregar ao namorado.
Falo da roda de chimarrão, do lanche caprichado para levar no dia do piquenique, do acampamento e das histórias contadas ao redor da fogueira.
Falo da luz da lua, do brilho das estrelas, da canção de amor cantada ao pé do ouvido, do afago feito no cabelos e no rosto do amado.
Falo da escolha da roupa, do banho demorado, da colônia passada no corpo, da flor na lapela, das camisas de cambraia, da blusa bordada, dos cabelos bem penteados.
Falo do café passado na hora para oferecer ao amado, do livro ofertado sem que fosse pedido, do chinelo na porta para dar conforto aos pés, do jornal na cadeira da sala pronto para ser lido.
São pequenos ritos que o amor pede. Pequenas atenções que perpetuam os laços afetivos e que se transformam em elos sólidos.
Essas atenções vão promover a intimidade, a vontade de ficar junto, a coragem de confidenciar os problemas e a vontade de resolvê-los dialogando.
Falo dos casais que já se esqueceram de dizer ''eu te amo''. E de repetir essa frase como se fosse uma prece.
Desde que os ritos do amor foram abandonados e se misturaram ao tempo, não encontram mais tempo para serem recuperados.
As pessoas são substituídas com pressa, não há comprometimento, nem a vontade de se doar afetivamente. Como se preocupar com o outro se a única preocupação é com o próprio ego?
Até que um dia, na idade da carência, os homens se perceberão solitários e, então, será tarde para buscar um amor verdadeiro e uma lealdade sem mácula.
E os filhos postos no mundo, sem um lar bem constituído, crescerão e farão de seus dias um arremedo de vida. E terão as mesmas frustrações que seus pais experimentaram.
Quem não experimentou os ritos do amor, vai acabar por procurar no relacionamento, uma bengala para se apoiar ou um escudo que lhe dê uma pseudo proteção. Porque parece que temos menos medo da morte do que da solidão.
Eu passei pelo flerte, namoro, noivado e casamento. E percebi que os casais de minha época ( 1960 ) continuam casados. Mas nossos filhos já se separaram e os filhos deles também.
A visão da família como célula - mater da sociedade, se desfez.
Os tempos são outros. O que não quer dizer que sejam mais felizes.
Os ritos do amor, daquele amor que quer se manter, levam ao autoconhecimento. E esse é um precioso tesouro. Mas é preciso maturidade para descobrir que há um melhor caminho a trilhar. Mas, além dessa descoberta, persiste o fato de que é preciso abdicar do caminho desastroso que estivemos trilhando. É preciso ter coragem para admitir que estávamos no pior dos descaminhos e apenas preocupados com a ambição e o poder.
Os ritos do amor indicam o caminho singelo. Aquele que ensina a valorizar as pessoas e não as coisas materiais.
E que mostra que a felicidade tão almejada se alimenta dos momentos desprovidos de luxo e riqueza. Ela está na simplicidade dos gestos e ritos afetivos.
Mas quem ainda tem coragem de se doar em nome do amor?
KATIA CHIAPPINI
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Maria Rocha
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