Aquarela de poesias

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Poesias para você

quinta-feira, 27 de maio de 2021

UMA CABANA

UMA CABANA


 UMA CABANA

Sempre me chamou atenção o fato de que as pessoas aposentadas escolhem mudar de vida para morar numa simples cabana, na praia ou no sítio.
É uma decisão que reflete o cansaço que nos causam certas circunstâncias advindas de cidades bem povoadas e ruidosas.
Na cidade vivemos aceleradamente, tentando ganhar o sustento e sob pressão contínua que nos é imposta por diretores, supervisores, chefes e superiores com os quais temos que conviver de modo civilizado.
Ao adquirir um ganho fixo, as pessoas analisam todos esses componentes que as sufocam. E que são responsáveis por direcionar a vida, diferentemente, do modo atual de se comportar, buscando mais liberdade e uma vida saudável e tranquila.
Na cabana simples, que possui o suficiente, descobrimos outros valores que não se prendem aos bens materiais que não paramos de acumular durante a vida toda. E que não mais nos satisfazem como pessoas.
Num cantinho qualquer do planeta buscamos a própria identidade, o valor da leitura, o conforto da música, a serenidade da vizinhança, o contato com a natureza pródiga, a beleza da cachoeira, o canto dos pássaros, o ruído da brisa da manhã, o encanto do pôr do Sol e da Lua emoldurada por estrelas que pontilham o céu azul.
Acordar com o canto do galo é algo que remonta a uma vida mais simples, que conhecemos nas estâncias, onde a gauchada já se levanta para iniciar o dia com a lida no campo.
Na cabana somos acolhidos pela nossa essência, pelos estímulos espirituais, pelo sentimento de solidariedade, pelo melhor de nós.
Deixamos de lado nossas máscaras, nossos vestidos antigos, nossa biografia recheada de dados que não mais nos fazem falta.
Deixamos de frequentar os Salões de Beleza porque descobrimos que a beleza maior não necessita de maquiagem: é dom de Deus.
Voltamos a viver em paz de espírito, organizamos reuniões para encontrar com os familiares mais próximos, sem a preocupação de apresentar manjares raros para exibir nossas qualidades culinárias. Aquelas que implicam em trabalhar um dia todo para depois desfrutar da exaustão enquanto os demais se fartam e se embebedam. E, não raro, nessas ocasiões, surge um clima pesado onde as desavenças e cobranças transformam o clima, como por encanto.
Na cabana há entendimento, mais diálogo, mais vida ao ar livre, mais união entre os seres.
Há roda de chimarrão, há o clube da pesca, os churrascos de domingo, o carteado, ao anoitecer e o chá das comadres, em rodízio, para não sobrecarregar ninguém.
E, pela manhã, você é convidado a cavalgar para se embriagar com a paisagem que se desenrola a sua volta, sem que nada a iguale.
Ou para andar de canoa, no riacho, cercado pelas margens rodeadas de uma vegetação exuberante, onde o canto dos pássaros se faz ouvir, onde, mais ao longe, sua visão se perturba com a impressão de que o céu parece encontrar as águas límpidas.
Algumas pessoas idosas não fazem questão de lidar com seus aparelhos eletrônicos e voltam a usar o telefone fixo, ler os jornais, e apenas, assistir os românticos filmes da televisão.
A vida na cabana é uma volta no tempo, em tempo hábil.
É uma volta a Deus a quem devemos agradecer por tudo o que conseguimos. É uma volta ao interior pela meditação, pelo louvor em forma de oração, pela continuidade da vida.
Se perguntassem para um senhor de 95 anos:
- O senhor não tem medo da morte?
Eu imagino que ele diria, e com propriedade, o seguinte:
- Tenho medo da vida, pois quero servir ao meu semelhante enquanto viver, assim como Deus ensinou.
Vivamos esse tempo de paz, em algum momento de nossas vidas!
Vivamos para nos encontrar no emaranhado desse labirinto que é a existência.
Que cada um de nós busque uma cabana para descansar da lida, numa rede ao luar de um lar feliz!
KATIA CHIAPPINI
Carmem Marisa, Lourdes Carvalho Rosa e 1 outra pessoa
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