Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

sábado, 28 de junho de 2014

SARAU POÉTICO!

                          SARAU POÉTICO!

Uma vez por mês nos reunimos para assistir e participar de um sarau de poesia, entre outros tantos da cidade.
Mas sempre é um mistério. Não se sabe quem comparecerá. As pessoas vão se chegando algo tímidas e ocupam as cadeiras existentes. Mas a sala fica quase vazia e não deveria ser assim.
E mesmo que a entidade tenha uma vida já estruturada não consegue reunir mais adeptos da arte de fazer rimas. É preciso sair no corredor e convidar algumas pessoas que por ali circula para prestigiar o evento. Os governantes não se preocupam em destinar uma sede para que os participantes possam se reunir e melhor planejar as atividades literárias.
E o auditório não permanece em silêncio total. Como são poucas as pessoas presentes, fica parecendo uma pequena reunião de família e as conversas paralelas interrompem as apresentações.
As palmas são tímidas e as publicações dos poetas locais ficam, passivamente, em cima de uma mesa, e se torna difícil concretizar o desejo de ver as obras expostas serem vendidas como pretendem seus autores. Sempre procuro obtê-las porque sou uma leitora assídua e procuro prestigiar os colegas que se esmeram em publicar seus livros.
Então, se vê alguns poetas pegar as obras expostas e sair de fila em fila para tentar vendê-las pessoalmente.
E não há recursos para promover oficinas e cursos que seriam importantes complementos para quem escreve e quer publicar seus textos corretos, quanto à concordância, como quanto à logicidade e coerência.
E sem uma verba específica, sem local próprio nada se desenvolve e os saraus podem se extinguir por falta de público.
Os participantes são pessoas idosas e que se dedicam já por hábito.
Mas e os jovens? Será que não têm sensibilidade ? Será que a tecnologia os desviou das rimas poéticas? Ou será que se envergonham de fazer poesia?
Sem incentivo, sem sede própria, sem oficinas, sem poder convidar poetas de renome para dar palestras, os encontros vão se perdendo.
As vezes um pipoqueiro entra na sala, ou um vendedor de sucos ou refrigerantes. E sem cerimônia faz sua oferta sem se preocupar se deve fazer silêncio naquele recinto cultural. 
Outras pessoas saem antes do término do evento.
E como é difícil viver só de literatura?
Quantos talentos não têm a oportunidade de mostrar seus textos?
Onde estão os patrocinadores? E os direitos autorais que deixam a desejar?
Parece que só um grupo fechado consegue se infiltrar, com sucesso, no meio da literatura. Se não houver uma indicação ou se não conhecerem pessoas influentes que sirvam de padrinhos, vão passar uma vida escrevendo e deixando nas gavetas os seus textos, sem utilidade. Se não houver a preocupação de sistematizar uma política voltada para novos autores, muitos deles vão se perder e perder o estímulo e a esperança de serem descobertos e reconhecidos.
Temos o exemplo de Cora Coralina, de Goiás, que só aos 73 anos conseguiu publicar seus livros. E isso ocorreu porque alguns professores universitários a descobriram e a própria universidade se encarregou de providenciar e patrocinar seus poemas e textos regionais e do folclore local.
E, ainda foi premiada, recebeu honras e louvores e foi a mulher mais destacada de sua época.
Então, os saraus poéticos ainda engatinham em busca de auxílio governamental para que seus membros se multipliquem. As entidades sofrem privações de toda ordem e quem se dedica a elas sabe que é uma tarefa árdua e uma constante busca por dias melhores, onde autores e poetas possam ampliar seu pequeno mundo e atingir sua meta.
Imaginem se os poetas cansarem de fazer seus versos? Quem falará da beleza da flor, do canto dos pássaros, da pujança das cachoeiras, do olhar diferente dos enamorados? Quem descreverá em versos a vez primeira?
Pensando bem, nem vou pensar num mundo sem poesias. Seria como pensar num mundo desprovido de sensibilidade, sem expressão, controlado por robôs, chips, sensores, radares, câmeras.
Enquanto eu tiver alguma esperança, vou continuar a frequentar os saraus e convidar mais pessoas para os eventos.
E vou prestigiar os organizadores, os batalhadores e os poetas tão puros e que ainda acreditam na sensibilidade dos homens de boa vontade.
E sou poetisa também, com muita honra.  E por ideal, por escolha.
E não saberia ficar sem escrever e descrever tantas belezas que me cercam.
Enquanto eu respirar as rimas misturadas com o próprio ar, vou ´precisar compartilhar meus anseios e preocupações com outras almas puras  e que ainda me entendam.
E vou fazer uma roda com outros poetas e convocá-los a ir para o meio da roda, um após outro, declamar uma poesia para brincar comigo e resgatar momentos puros de minha infância.
E, quem sabe, consigo chamar atenção dos poetas de rua e, com algum auxílio, fundar uma pequena agremiação dos esquecidos, mas tardiamente, por mim, lembrados.
E a estátua de Apolinário Porto Alegre? Um historiógrafo, poeta e jornalista? (1844-1904)
Foi roubada de uma praça de Porto Alegre e nunca mais o governo do Estado se preocupou em recuperá-la: um descaso lamentável.
Roubaram também a esperança do povo, o desabrochar da cultura que, até hoje, ainda caminha à passos lentos.
E isso que Apolinário foi político de renome e o primeiro presidente empossado da Sociedade do Partenon Literário, inaugurado em 1868: primeira entidade dos poetas riograndendes.
Restou apenas uma rua com seu nome, uma Escola e um bar na cidade baixa.
E se houvesse oportunidade, poderíamos tomar conhecimento,num desses saraus poéticos, da importância de Apolinário Porto Alegre, por exemplo, e resgatar seus inúmeros feitos em prol da cultura.

                                   KATIA CHIAPPINI
                       e-mail:katia_fachinello42@hotmail.com




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