Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

domingo, 7 de dezembro de 2014

O DIA EM QUE CHEGUEI AO INTERNATO! ( AOS 7 ANOS DE IDADE) )

    O DIA EM QUE CHEGUEI AO INTERNATO

Papai era funcionário do Banco do Brasil e houve um tempo que viajava para inaugurar novas agências por esse  Brasil a fora.
Fomos morar em Andradina, interior de São Paulo, quase divisa com Mato Grosso. A cidade iniciava a sua colonização.Só a igreja, uma ou duas escolas públicas, poucos comerciantes, estradas de terra, o caminhão que regava as estradas para baixar a poeira, o prédio da prefeitura e pouco mais que isso. 
Meus pais resolveram me colocar no Colégio interno, em Mogi-Mirim, onde havia uma boa escola de freiras.
Chegamos na escola pela manhã e papai fez um sinal para a freira. Essa entendeu que deveria tirar minha bagagem do porta malas do carro e colocá-la em meu quaro, sem que eu percebesse a movimentação. E assim foi feito. Outra freira me levou a conhecer as dependências da escola.
Enquanto eu me ausentava, meu pai fez o pagamento de uma importância na secretaria da escola, voltou para o carro e partiu com minha mãe.
Quando me dei conta disso saí a correr pelos corredores na esperança de encontrar meus pais. Como não os encontrei, fui parar em baixo de uma mesa, onde sentei no chão e perto da porta de entrada da instituição. Chorei muito e quis ficar sozinha ali.
Cheguei a pensar, minutos depois, que estivessem fazendo compras, ou escolhendo um presente para mim. Fiquei com o ouvido atento porque a qualquer momento poderiam voltar para me buscar, pois esse pensamento me ajudava a chorar menos.
Lembrei de como os amava e ao meu irmão menor que ficara em casa com a babá. E minha babá era minha amiga e confeccionava roupas com retalhos para eu vestir minhas bonecas.
Segui com meus pensamentos:
-Será que meus pais me achavam muito teimosa? Ou muito desobediente? Ou será que minha mãe queria que eu tivesse uma formação esmerada num bom colégio?
Nesse instante, de tanto pensar, minha cabeça começou a doer e meu estômago vazio a reclamar.
Anoiteceu e as internas, as funcionárias e a freiras estavam se retirando aos seus aposentos.
Como eu não quisesse sair de baixo da mesa a madre superiora foi falar comigo:
-Filha, se você se recusar a sair vou tomar uma atitude drástica.
-Não reverenda madre, estou pensando ainda e quero ficar aqui.
-Então vou te colocar num caixote de carga e te enviar para  Andradina, como uma mercadoria qualquer. E vou colocar pregos em volta para que não possas sair.
-Então vou para meu quarto e para o refeitório me alimentar.
A madre suspirou,aliviada,  me levou aos meus aposentos e chamou outra freira para me atender. Antes que a madre se afastasse eu perguntei:
-Madre, quando vou ver meus pais?
-Nas férias de julho, se tiver boas notas nas disciplinas.
Comecei a prestar atenção às aulas e me tornei uma aluna disciplinada e aplicada. Não custou para que começasse a juntar as sílabas e formar frases. Aprendi a ler em 15 dias ,tal meu interesse e vontade de ver o meu boletim sem notas vermelhas.
Fui para a minha casa nas férias de julho. Ao vê-los fiquei muito emocionada e os beijei e abracei com força e com lágrimas de emoção. Não me animei a reclamar nada e nem a contestar a atitude deles em relação a mim. Não quis desfazer esse momento feliz ao lado deles e de meu irmão querido.
Hoje, mãe e avó, feliz de conviver com filhos e netos, ainda não entendi como, naquela manhã de 1949, meus pais puderam sair da escola, sem se despedir de mim, uma criança de apenas 7 anos de idade.

                                     KATIA CHIAPPINI


                                   -E-MAIL;KATIA_FACHINELLO42@HOTMAIL.COM


   Eu tinha cabelos compridos e uma freira tinha a paciência de      fazer minhas trancinhas. E as usei por um bom tempo.                katia

Um comentário: