O INSTRUMENTISTA DA PRAIA DE TORRES

                       O INSTRUMENTISTA

O toque da harpa paraguaia me encantava desde criança. Papai tentou mas não conseguiu encontrar um professor de harpa quando me interessei em aprender.
Como não apreciar CIELITO LINDO, EL CONDOR PASA, GUANTANAMERA  OU PÁJARO CAMPANA , SEM ARREPIAR?
E, ao encontrar um modo de ouvir esse lindo instrumento, tratei de realizar esse desejo.
Na praia de Torres, o instrumentista se apresentava, ao ar livre, na frente do restaurante especializado em frutos do mar, ao entardecer.
Bastava pedir algum ´petisco e um refrigerante para desfrutar do som divino que vinha da harpa paraguaia. Após o horário das 20 horas ele entrava para tocar no restaurante, e nós, os que estávamos na parte externa, senão fôssemos jantar, íamos para a casa.
Eu aproveitava para caminhar à beira mar e percorria, entre ida e velta, uns 3 k aproximadamente. Parecia perfeito desfrutar da beleza natural, do esporte e daquela música que completava o dia.
Algumas vezes o instrumentista perguntava para as pessoas presentes o que gostariam de ouvir. Quando se dirigiu a mim, lembro-me de que solicitei MALAGUEÑA E ÍNDIA, entre outros pedidos. 
Eu permanecia nesse local entre 18h e 20 horas, aproximadamente.
Tudo parecia tranquilo e encantador. Mas na primeira noite de carnaval, quando eu estava me retirando, o músico se dirigiu à minha mesa e disse:
-Espere mais um pouco para pular carnaval comigo.
Eu, tomada  surpresa, levantei da cadeira e fui me despedindo com essas palavras:
-Agradeço o convite mas minha prioridade são os meus netos de quem devo cuidar para minha filha poder sair.
Nem preciso dizer que perdi esse momento e não compareci mais no local. Lamentei o ocorrido porque o instrumentista era exímio em dedilhar a harpa.
Chegando em casa contei à minha filha o inesperado incidente em minhas tranquilas férias de verão. Disse-lhe:
-Filha, o músico me convidou para pular carnaval com ele e assistir o desfile de rua. E, claro, não aceitei.
Minha filha toda eufórica me olhou rindo e não demorou em se manifestar com essas palavras:
-Mas mãe, eu precisando de um par para dançar no clube e tu o encontras e o dispensas?

                                       KATIA CHIAPPINI