Aquarela de poesias

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Poesias para você

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

AS CURVAS.

                              AS CURVAS

 Estou recordando os tempos de faculdade, pelos idos de 1960, quando era uma estudante de Pedagogia, de uma Universidade católica.
´Éramos, quase todas, de sexo feminino e apenas alguns colegas homens.
A turma era unida, com os mesmos sonhos, mesma alegria, mesma vontade de vencer e conquistar um lugar próprio.
Belos tempos, boas festas, bons amigos, bons professores.
Em certa ocasião, durante a aula de Estatística, o professor, um jovem padre, dissertava sobre as funções dos gráficos de barras e dos gráficos de curvas.
Após desenhá-los e explicar a marcação numérica e a utilidade prática, pediu que copiássemos no caderno.
Fizemos o gráfico de barras e cada aluno podia criar seu próprio enunciado para representar com o traçado exigido.
Depois, passamos ao gráfico de curvas.
Fui das primeiras alunas a traçar o meu e gostei do meu traço bem delineado e preciso.                                                                             
O professor tinha por hábito dar o visto nos cadernos, nas nossas classes.
Concluído o trabalho observei novamente as curvas, a numeração e chamei alto:
- Professor. quer ver minhas curvas?
A reação da turma se fez sentir e de imediato ouvi uma única e sonora gargalhada e todos os olhares se fixaram em mina direção.
Acontece que me concentrei tanto nos gráficos que demorei a perceber que todos riam muito. Mas, ao perceber o que eu tinha dito, baixei a cabeça e fiquei sem cor.
Passados alguns dias lá estava, de novo, o jovem padre e professor de Estatística.
Dessa vez, e dizendo estar um pouco cansado, pediu que ao terminar as tarefas, essas fossem levadas à sua mesa.
Terminei o que deveria ser feito , levantei e me dirigi à mesa do professor para mostrar o caderno.
Ele, sentado, se curvou sobre a mesa, de modo a ficar bem próximo de meu rosto e inesperadamente falou:
- Além de belas curvas você tem os olhos mais lindos que eu já vi.
Levei um susto com aquela voz melosa sussurrando em meus ouvidos. Não me afastei, tentei manter a calma, permaneci como estava e falei:
- Vá tirar essa batina, padre!
E ele, completamente sem jeito, nem me olhou.
Então, não resisti e conclui:
- Enquanto vestir esse hábito de sacerdote saiba honrá-lo.
Fui para minha classe e me sentei sem demonstrar meu constrangimento.
O professor, o jovem padre,ficou olhando para o nada, distraído até se refazer.
Um aluno notou e perguntou:
- Houve algum problema , professor?
E ele respondeu;
- Não, estava apenas meditando enquanto a turma termina as
 tarefas.
De minha parte, não tive mais problemas dessa ordem com o professor a quem fiz questão de tratar com a máxima formalidade, desse dia em diante.
                                 KATIA CHIAPPINI
                                    

                                    
                      E-mail:katia_fachinello42@hotmail.com



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