Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O ESPETÁCULO DA NATUREZA!

             O ESPETÁCULO DA NATUREZA

Um guarda-sol foi levado pelos ares Camisetas, óculos e bolsas levantaram voo. A retirada foi a pedida da hora. O vento precipitou vasos de flores para o chão. A areia em movimento cegava as pessoas e a ventania atrapalhava a volta à casa. De um momento para outro as ruas ficaram desertas. As pessoas corriam para se abrigar em lugares fechados. Era quase hora de almoço e, por esse motivo, os restaurantes lotaram. O movimento do vento nas palmeiras jogou parte de algumas delas em plena rua. Em poucos minutos as ruas ficaram desertas.
Quem voltava da praia com os filhos teve dificuldade de carregar todas aquelas tralhas que costumamos levar. Uma senhora atravessou a rua correndo para buscar seu chapéu voador e quase foi atropelada. Uma criança perdeu sua bola porque a deixou cair e o vento carregou para longe de nossa vista.
Só o céu continuava claro, sem nenhum sinal de tempestade. Um contraste muito interessante. Algumas telhas se desprenderam nos telhados.
Observei todo esse movimento pela fresta da porta de correr da sacada do apartamento . Recebi um vento forte no rosto e meu cabelo se embaraçou e alguns fios bateram em meus olhos.
Agora vislumbro uma faixas caindo nas calçadas com a inscrição: ''vende-se''. A erva do chimarrão esverdeou o chão e se perdeu da cuia que a continha.
Vi um saco de plástico saindo de uma janela, de um andar alto, voando pelo céu aberto e se recusando a cair no chão, como se acompanhasse o movimento do vento.
O jornal Zero-hora ainda estava na sacada, onde é jogado todas as manhãs, num saco plástico. Retirei-o, limpinho. Uma turma jovem passou fazendo algazarra num carro esporte, com o som a todo volume, já que não seria possível tomar banho de mar. 
Alguns vizinhos desceram agora para resgatar algumas peças de roupa caídas do varal.
E quem volta da praia avisa aos outros da fúria do mar, da força do vento e aconselha que não se dirijam aos locais de banho.
O vento diminui de intensidade e tomara que não falte luz, pois percebo que temos que contar com a televisão para distrair as crianças, presas no apartamento.
Sigo observando a natureza,  de minha sacada e me balanço na rede, agora.
O embalo da rede é o mesmo que balança meus sonhos e, de repente, fico nostálgica com minhas lembranças.
Então, canto baixinho uma canção de Fernando Mendes, interpretada por Dorival Caymmi que termina com os seguintes versos:
''Hoje estou sozinho e tu também
Triste me lembrando de meu bem
Vento diga por favor
Aonde se escondeu o meu amor ''
Chama-se : Prece ao vento.
Faço também uma prece pedindo ao homem que não destrua o planeta ou que não torne a vida na terra insustentável com sua cobiça e ambição desmedidas.
Porque em nome do lucro desmedido todos os valores caem por terra e o capital é o senhor absoluto.
Tenho a sensação de que o vento varreu a dignidade humana, com uma força bem maior do que aquela com a qual varreu algumas árvores da avenida onde moro.  

                                 KATIA CHIAPPINI


Um comentário: