Aquarela de poesias

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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

DIA 17 DE FEVEREIRO DE 2014:PRAIA DE TORRES

             DIA 17 DE FEVEREIRO DE 2014

Mamãe faleceu em 2011 e comemorava seu aniversário em 17 de fevereiro.
Cuidei dela, com desvelo, durante 6 anos, quando foi acometida de doença degenerativa.
Meu irmão e eu, não temos o hábito de levar flores ao cemitério porque nos faltou essa formação no lar.
Éramos já adolescentes quando, pela primeira vez, nossos pais nos levaram a um velório. Ao falecer, minha mãe foi colocada no jazigo perpétuo, junto com papai, falecido muitos anos antes. Desde que mamãe faleceu meu irmão e eu não fomos mais ao cemitério.
Tenho me preocupado com isso e toquei no assunto, com ele, em janeiro desse ano.
É preciso providenciar, disse-lhe eu, a colocação da foto de mamãe e a inscrição em seu túmulo, ao lado do registro de papai. Há uma tampa de mármore preto que cobre a sepultura e nela está a foto de papai. E no mesmo local, há espaço para colocar a foto de mamãe e a inscrição que contém sua data de nascimento e a da morte.
E, as vezes, penso que mamãe, de onde estiver, deve estar inconformada com o descaso de seus filhos: meu irmão e eu.
Fica a impressão de que mamãe foi enterrada como indigente e que nunca existiu.
Estou em Torres, uma linda praia, e se torna impossível não lembrar de mamãe que amava a casa de veraneio.
Trouxe-a comigo, mesmo nos anos finais de sua doença, porque um de seus pequenos e restritos prazeres, era estar na pracinha central, onde podia observar os cães e as crianças desfilando. E o som das músicas folclóricas dos bolivianos, com suas flautas mágicas.
Então, no dia 17 de fevereiro, dia de seu aniversário, nesse ano de 2014, fui atravessar a rua, já bem próxima de minha casa
Não sei como aconteceu e não consigo saber o que houve em minha mente, que se desligou: um lapso quase mortal.
Ouvi aqueles gritos, de repente me dizendo:
- Senhora, quer ir ao hospital?
- Não, foi só um grande susto!
- Tem certeza?
- Sim, obrigada. 
E como me olhassem apavorados, completei:
- Estava com um problema no pé que me impedia de andar normalmente:  me distrai porque sentia dor. 
Fui para casa em estado de torpor, com o coração saltando do peito, com os batimentos cardíacos acelerados.
O fato é que, de uma hora para outra, sem saber de onde surgiu, vi um carro passar por mim, de tal forma, que enxerguei um casal no banco dianteiro e outra pessoa no banco traseiro,  como se tivesse enxergando por um binóculo entre as mãos. 
Por muito pouco eu não fui atingida em cheio.
Parei, instintivamente, quando percebi aquele golpe de vento e ouvi o barulho do carro, bem perto de meus ouvidos.  Tive a sensação de que o carro ia colar em meu corpo.  Mais um passo à frente e teria sido fatal.
Lembrei-me de ter lido o jornal pela manhã e conferido a data: dia 17 de fevereiro de 2014.
Enquanto mamãe viveu, reuníamos filhos e netos nesse dia e comemorávamos seu aniversário com uma janta. E a visão panorâmica do rio Mampituba, através da janela do restaurante, era deslumbrante em noites de lua cheia. E o clarão deixava a água prateada, desenhando um caminho no meio do rio.
Mamãe ficava muito feliz com essa reunião de família.
Então, quando esse imprevisto, que poderia ter outro e inesperado desdobramento, me aconteceu, pensei que minha mãe quisesse me dar algum aviso despertando minha atenção.
Poderia estar dando um sinal para que eu não atravessasse a rua sem antes olhar bem para os dois lados. 
Ou estar indignada com o fato de seu túmulo não estar identificado, até a presente data. 
Mas pode estar necessitando mais preces porque só assim vai sentir que seus descendentes se preocupam em preservar sua memória.´
E importante, se faz, cultuar os antepassados, agradecer o que deixaram como exemplo e pedir sua proteção.
Quando chegar em Porto Alegre, vou mandar rezar uma missa por mês, durante os 12 meses do ano, para que o espírito de minha mãe descanse em paz.
E vou pedir perdão em minhas preces noturnas por algum ato ou omissão que deva reparar em relação à mamãe.
E vou agradecer em minhas preces matinais, o milagre de estar viva e sem nenhum arranhão, para estar no aconchego de minha família.
E a cada dia 17 de fevereiro, vou lembrar, de um modo especial de minha mãe e estar com ela em pensamento e no coração.
E vou olhar para o céu e implorar:
- Reze comigo, minha mãe querida!

                                      KATIA CHIAPPINI



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