Aquarela de poesias

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Poesias para você

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

ATORDOANDO OS OUTROS

ATORDOANDO OS OUTROS


 ATORDOANDO OS OUTROS!

Eu estava almoçando com minha filha e sentamos em nossas cadeiras em uma mesa onde cabiam 6 pessoas. Como o restaurante estava bem movimentado, o garçom nos encaminhou para essa mesa. Não demorou muito um senhor acomodou-se ao meu lado direito, bem próximo, porque estavam sobrando lugares. Chegou bem disposto e cantarolando baixinho. Conversei com minha filha diversos assuntos. Falei dos filhos e netos, comentei sobre os estudos, o trabalho, as estratégias para o próximo ano. Minha filha me escutava e pouco se pronunciava. E me deixou desenrolar um carretel de informações, evitando interromper meus pensamentos, de onde tirei uma espécie de relatório mensal, em itens detalhados, a respeito da família e seus componentes. Percebi, logo a seguir, que o senhor estava um pouco inquieto. Na verdade não aprofundei essa observação mas ouvi um barulho que fez com a cadeira. Depois percebi que olhava em minha direção, discretamente. Mas o movimento era rápido e eu nada podia imaginar.
Passados alguns minutos o homem levantou-se bruscamente e buscou uma mesa onde os ocupantes tinham acabado de liberar. E essa ficava distante o suficiente da nossa. Olhei para o senhor que caminhou como se fosse tirar o pai da forca ou perder o trem de sua vida. E, com absoluta surpresa, toquei no ombro de minha filha e apontei para aquele senhor. Acontece que o vimos com as duas mãos tapando os próprios ouvidos e uma expressão nada agradável de se ver. Ficou, por mais de cinco minutos assim, apavorado e mudo, com o prato ainda servido e a comida esfriando. E as mãos chegavam a amassar seus cabelos grisalhos como se quisesse alisá-los, na ânsia de colher um pouco de silêncio e paz auditiva.
Consegui atordoar o cidadão, sem que nem percebesse. Consegui passar por isso e continuar viva .Mas aquele senhor queria me ver pelas costas e talvez tivesse desejado que eu perdesse a voz.
Passados mais 5 minutos ele se mudou novamente para o fundo do restaurante, num cantinho solitário, onde só se via uma mesa, próxima da cozinha. E estrategicamente colocada para que o cidadão pudesse recuperar a paz que havia perdido, por minha causa.
KATIA CHIAPPINI
A imagem pode conter: 4 pessoas, pessoas sorrindo, pessoas sentadas, criança e área interna
Adélia Einsfeldt, Neiva Chiappini de Ubal e outras 27 pessoas
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