Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

MINHA AVÓ: DONA GLÓRIA

MINHA AVÓ: DONA GLÓRIA


 VOVÓ GLÓRIA, ESPOSA DE CLEMENTINO BICA,

MINHA QUERIDA AVÓ!
Vovó Glória era uma companheira muito dedicada ao meu vovô Bica. Sempre cercada por filhos e netos, foi amada e respeitada por todos.
A personalidade era firme e a disciplina da casa devia ser seguida, sem pestanejar,
Havia horário para que as refeições fossem feitas em família.
E para que os netos voltassem para casa à noite.
Havia a hora do rosário, quando vovó dedilhava as contas do mesmo, rezando, ao entardecer.
E os habitantes da casa devia respeitar o silêncio, religiosamente.
Vovó cortava as unhas dos pés de vovô e tirava os seus calos.
Às vezes vovó fazia algum movimento brusco e vovô se defendia:
- Cuidado, Glória!
Mas, mesmo assim, ninguém mais tratava dos calos de vovô
Dona Glória tinha vivacidade e iniciativa. Estava sempre atenta a tudo que acontecia ao seu redor.
Em certa ocasião, resolveu escrever uma carta aos devedores de caderninho para reaver o que era devido a vovô.
Isso porque ele era farmacêutico e vendia fiado, ou não cobrava de quem não pudesse pagar.
Vovó encaminhou a correspondência e aguardou um tempo.
Depois, resolveu cobrar ,pessoalmente, já que tinha uma bicicleta ao seu dispor.
Os devedores receberam minha avó e ficaram envergonhados, se desculparam e pagaram contas vencidas.
Ela organizou a contabilidade e foi mostrar ao vovô o que tinha arrecadado.
Vovô, muito bondoso e surpreso disse:
- Mas Glória, não precisava cobrar nada dessa pobre gente.
Só que as prateleiras quase vazias, ficaram com as divisões completas, pois minha avó repôs o estoque.
Vovó sabia ser carinhosa ,mas tinha um senso de responsabilidade que não a deixava concordar com algo que saísse do combinado.
Em certa ocasião, meu marido chegou de viagem, entrou na casa de vovó e deixou uma arma carregada no sofá da sala, antes de pegar as malas no carro.
Ela pegou a arma e a colocou rapidamente sobre um roupeiro e xingou meu marido. Mas, com classe, sem dizer nada ofensivo e sem pronunciar palavras chulas.
Meu marido se desculpou e disse que não tinha se lembrado de que os netos pequenos circulavam livremente pela casa.
Na outra manhã, meu marido falou que não ia almoçar porque estava com a gastrite dando seu sinal característico e provocando azia e dor estomacal.
Minha vó providenciou uma canja de galinha e uma porção de purê de batatas, levou para ele ,no quarto, e disse:
- Precisa se alimentar porque fiz esse cardápio especial para você.
Nas férias escolares vovó convidava os netos para passar uns dias com ela. E depois íamos para a casa da estância de meus tios ;Léo e Bebê.
Era muito divertido conviver com os primos durante as férias.
Vovó costumava fazer ambrosia, pudim, bolo, pão caseiro e compotas em calda, com as frutas que recolhia das árvores de seu pátio.
Ela era uma excelente dona de casa, além de se dedicar ao corte e costura. E pedalava sua máquina Singer, confeccionando as roupas da família.
Minha querida vovó sempre contou com a dedicação e assistência dos filhos,
Tia Thereza, uma das filhas, se aposentou do magistério e passou a morar perto de vovó, numa chácara.
Tio Walter e depois tio Severiano, ajudaram meu avô a'' tocar'' a farmácia e dedicaram uma boa parte de seu tempo para esse fim. E ambos tinham seus empregos e respectivos compromissos para cumprir.
Vovó Glória foi o equilíbrio da casa e a conselheira de vovô , algumas vezes.
Quando vovô faleceu e cheguei na casa de vovó ,ela me abraçou e chorou muito.
Lembrou que vovô e eu conversávamos muito e se emocionou com minha presença.
Foi essa a única vez que vi minha avó chorar tanto.
Quando eu chegava para ficar uns dias com ela, costumava comprar uns doces de uma confeitaria de Rivera.
Sabia que ela gostava de receber esse modesto presente.
Vovó era simples valorizava qualquer gesto delicado.
Lembro de presenciar a hora de seu banho, como se fosse um ritual da época da nobreza.
Ela demorava muito na enorme banheira e usava uma escova de cabo longo para esfregar bem as costas.
Saía bem perfumada e usando um pó de arroz e um batom clarinho. E ajeitava o coque nos cabelos longos e já fininhos.
Vovó Glória foi uma fortaleza para meu avô e uma dama faceira.
Saudades de sentar ao seu lado para ouvir as histórias da família, dos antepassados e suas peculiaridades.
Saudades de estar na mesa da sala de jantar com todos os primos e de ver minha avó levantar para servir, um por um, com carinho.
E quando ia se sentar , não raras vezes, os netos queriam repetição e vovó fazia questão de servi-los, novamente.
Bons tempos em que a hora da refeição era sagrada e reunia todos ao redor da mesa.
E preces a Deus eram feitas nas missas de domingo, onde colocávamos a melhor roupa para acompanhar tia Bebê, tio Léo e filhos à igreja.
Essas lembranças da casa de minha avó voltam sempre à memória
São as melhores lembranças de um tempo feliz..,
A casa de minha avó foi um recanto mágico!
E mágicos foram todos esses personagens que acompanharam minha infância e juventude.
KATIA CHIAPPINI
A imagem pode conter: 1 pessoa, close-up
7 compartilhamentos
Curtir
Comentar
Compartilhar

Nenhum comentário:

Postar um comentário