Aquarela de poesias

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Poesias para você

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

REFLEXÕES: VELHINHAS!

REFLEXÕES:VELHINHAS


 MINHAS VELHINHAS

DE ESTIMAÇÃO

Tenho algumas velhinhas de ouro em minhas relações de amizade.
Foram pessoas importantes em alguma etapa de minha vida e que tenho prazer em manter em minha presença. E, sempre, em minha lembrança.
A primeira delas veraneou por mais de 15 anos comigo e me auxiliava a cuidar dos filhos pequenos, por amor a eles e não porque eu houvesse, por bem, solicitar.
Era um convívio tranquilo entre meus filhos ,minha amiga Tunica e eu, nos verões da praia de Torres.
Tunica era solteira, uma dama faceira. A amava dançar e passear pela praia. Em certa ocasião ganhou um concurso de tango, no salão do Farol Hotel, onde se reuniam os frequentadores do estabelecimento. Dançou um belo tango com o padrinho de meu filho, também presente ao veraneio.
Quando estava com mais de 80 anos, certa manhã, não conseguiu sair da cama e foi levada ao hospital. Descobriram um câncer em estado avançado e nada havia para ser feito, devido a metástase que já se instalara.
Ela foi para sua terra natal onde seria cuidada pelas irmãs.
Fui visitá-la, com minha filha, um mês antes de seu falecimento.
Depois, voltei ´para Porto Alegre e falei para a família que não iria mais. Ficaria orando por ela. Tive a certeza de que seria muito bem protegida até sua hora final.
E essa amizade começara antes mesmo de eu ter minha primeira filha. Tunica a levava na praça de esportes, dava o lanche da tarde e a colocava para dormir. Mas fazia tudo isso por gosto, pois eu deixava uma babá para cuidar de minha filha, pois dava aulas nos dois turnos.
Depois que faleceu, passei a visitar a irmã de Tunica, com quem me dava bem. Mas, logo percebi que fazia questão de minha presença porque ficava relembrando as histórias pitorescas de Tunica.
Essa irmã se chama Justina e é professora aposentada. Mora em Porto Alegre, onde moro.
Também já tem mais de 80 anos de idade e me espera com um licor no copo e uma porção de castanhas de caju. E, me pede para ler minhas próprias poesias. E, tem especial gosto em interpretar o sentido de cada uma delas, para que eu diga se está correto.
E, então, três tardes na semana, vou ler poemas para Justina.
Outra das minhas velhinhas é professora aposentada e musicista. Durante muitos anos preparou corais de igreja e lecionou piano.
Minhas três filhas e eu tivemos aulas com D,Ídia: esse é seu nome.
Mas, o fato curioso é que nunca quis se afastar de mim e combinamos tocar juntas, uma vez por semana. Ela se sente bem ao me orientar nas músicas eruditas, dar uma opinião sobre o andamento e colocação adequada do pedal.
Não posso deixar de estar com ela, sinto que faz bem para ela dizer que ainda dá aulas de piano, aos 94 anos de idade.
Levo uma cuca doce ou um bolo para tomarmos o chá da tarde.
Depois que saio de lá é hora das orações dela, o que faz diariamente, ao entardecer.
Ainda tenho outra velhinha com 93 anos de idade:D.Jacira.
Ela me procurou para aprender piano, já na idade de 80 anos, aconselhada por seu médico, para evitar artrite em suas mãos que pareciam estar com problemas.
Aprendeu a tocar umas valsas e amava dedilhar.
Depois de dois anos, precisou cuidar de seu marido, também com adiantada idade.
D.Jacira ficou viúva, entristeceu, parou de tocar piano. Ela me falou que o marido apreciava o seu empenho e vinha sentar, numa cadeira ao lado dela. para prestigiar o seu toque.
Hoje está em uma casa de repouso e espera minha visita, pelo menos, duas vezes ao mês.
Levo algumas guloseimas para que complete suas refeições.
Ela gosta de conversar sobre o passado, sobre o marido e as atenções que lhe dispensava.
Foi o único companheiro de uma vida toda e teve um relacionamento feliz.
Assim, tenho um roteiro que estabeleço no mês e incluo as três velhinhas que visito e que me aguardam.
É como se eu as adotasse .Foram me cercando e me sinto responsável por elas: Justina, D.Idia e D.Jacira.
Então, fico a pensar que pequenos gestos deixam as pessoas felizes, risonhas e reconhecidas.
Sinto especial prazer nessa tarefa, pois o abraço carinhoso chega com intensidade, o beijo é caloroso e as palavras surgem, sem sentir. Palavras amigas e que me acariciam, sem que eu nada peça.
Para mim, esse é o sentido da vida: doar-se sem esperar nada em troca. Mesmo porque a troca vem com um gesto de ternura, com uma palavra que emociona, com o jorrar de uma lágrima furtiva e inesperada.
Nossos melhores momentos não dependem de pagamento em cédulas ou moedas. Eles são gratuitos, espirituais e reconfortantes.
Enquanto eu estiver cercada por minha velhinhas, cada uma com sua personalidade, estarei com a alma iluminada e o coração aquecido.
A vida vale à pena para quem a faz valer, para quem se dedica ao semelhante e recolhe dele novas inspirações para seguir a semeadura que dará bons frutos, ao final da existência.
A maior riqueza que penso deixar para meus filhos é a que se refere ao desenvolvimento de um caráter íntegro, inatacável.
E peço que saibam a hora de estender a mão, uns aos outros, e todos juntos, à humanidade.
KATIA CHIAPPINI
Irma Co

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