Aquarela de poesias

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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O DIA EM QUE CHEGUEI NO INTERNATO

        CHEGANDO NO INTERNATO


         O DIA EM QUE CHEGUEI NO INTERNATO...

Papai era funcionário do Banco do Brasil e era escalado para abrir novas agências por todo esse Brasil. Fomos morar em Andradina, São Paulo, quase Mato Grosso. A colonização da cidade apenas se iniciava e não havia boas escolas. Meus pais descobriram em Mogi-Mirim um internato de freiras que recebia meninas. Meus pais decidiram me colocar nessa escola. Chegamos pela manhã, na escola, minha mãe, meu pai e eu. Enquanto uma freira retirava minha bagagem e levava ao meu quarto, outra me distraia e me levou com ela para conhecer o prédio da escola. Enquanto eu me ausentei meu pai fez o pagamento na secretaria da instituição, voltou para o carro com minha mãe e partiram.
Quando me dei conta disso comecei a correr pelos corredores e escadarias procurando por meus pais. Como não os encontrei, fui para baixo de uma mesa e me sentei no chão, a chorar. Chorei muito mas nunca contei isso aos meus pais e não os recriminei. Passei a tarde toda sentada no mesmo lugar e as freiras não conseguiram que eu saísse para conhecer as outras meninas. Anoiteceu e a escola silenciava: as funcionárias, as internas e as freiras já estavam se recolhendo aos seus aposentos.
Como eu não saísse do lugar a madre superiora disse:
-Filha, se você se recusar a sair vou tomar uma medida drástica.
-Não quero sair porque estou pensando ainda.
-Então, vou te colocar num caixote de carga e mandar um caminhão te levar para Andradina. E vou colocar pregos em volta para que não possas sair.
-Prefiro ir para meu quarto, irmã.
-Levante-se e venha comigo
-E quando vou poder ver meus pais?
-Nas férias de julho se tiveres boas notas.
Comecei a prestar atenção às aulas e me tornei uma aluna aplicada e disciplinada. Não custou muito e eu estava lendo.
Fui para a casa nas férias. Abracei e beijei meus pais e me senti tão feliz que, realmente, não me animei a desfazer esse clima e nem contestar a atitude deles. Talvez, por fatos como esse, minha mãe costumava falar para a família:
-Katia já nasceu adulta.
Também a ouvia dizer:
-Minha filha é uma pessoa firme e forte.
Passados tantos anos, ainda me lembro desse dia nebuloso que, afinal,fez com que eu tivesse determinação ao longo de minha vida e uma personalidade independente para contornar as dificuldades.
Hoje ,mãe e avó, feliz no convívio de filhos e netos, ainda não entendi, como naquela manhã do ano de 1949, meus pais puderam sair sem se despedir de mim, uma criança de apenas 7 anos de idade.
Nem por isso deixei de gostar menos de meus pais, pois deles recebi uma educação esmerada.
E de minha mãe recordo as seguintes palavras:
-Sabes,filha, as meninas precisam aprender boas maneiras, tricô, bordados, arte culinária...
- Mas por que,minha mãe?:
- Para se tornarem moças prendadas, boas dirigentes de seu lar e aptas para conseguir um ''bom partido''

KATIA CHIAPPINI
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