Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

sábado, 12 de dezembro de 2020

MINHA PROFESSORA DE PIANO

MINHA PROFESSORA DE PIANO


 MINHA PROFESSORA DE PIANO

D.Idia tornou-se uma grande amiga, antes mesmo de ser minha professora de piano.
As aulas eram proveitosas e impecáveis.
A contagem do tempo era mantida do início ao fim da peça musical.
O entusiasmo da professora era o melhor presente para os alunos.
D.Idia tinha origem italiana e alemã . Era rigorosa com a postura ao piano, com a posição das mãos e com a ordem dos dedos no teclado.
Exigia o solfejo e a leitura da pauta respeitando os acidentes de percurso.
Ela tinha uma grande e assustadora régua para dar uma cutucada nos dedos quando o toque era defeituoso.
Mas, já na primeira aula, pedi-lhe que dispensasse a régua e fui atendida.
Quando a encontrei já era adulta e estava revendo minhas aulas, já que havia parado de tocar, por longo tempo.
A interação foi imediata e cada encontro se tornava um espetáculo inédito e gratificante.
D. Idia tocava cada exercício, antes, e pedia que eu a ouvisse com atenção.
Depois interpretava cada marcação da pauta e analisava os sinais e seu significado, detalhadamente.
Desde que a conheci não parei mais com as aulas semanais.
Esses eram os melhores que tínhamos.
Havia uma troca perfeita e ótimo entrosamento entre nós.
O motivo de seguir com as aulas se justificava pelo fato de que queríamos manter os encontros para reforçar os ensinamentos, para interpretar as peças, a quatro mãos e manter a amizade que esses encontros nos proporcionavam.
Fui percebendo que após completar o último ano de estudos, D. Idia me apresentava mais e mais peças para seguirmos tocando piano e tomando o chá da tarde que preparava com entusiasmo.
Não tive coragem de deixá-la triste porque eu também ficaria.
Casei, tive os três filhos, mas D.Idia continuou a ministrar suas aulas.
Eu escolhia as peças para estudar, pedia para que ela tocasse para observar os detalhes. Ela estudava durante a semana e me apresentava no início da aula o modo correto de interpretar o sentimento do autor ao compor a música.
Quando completou 90 anos, pensei que fosse me dispensar, mas, ao contrario, dizia -me que não a deixasse. Confessou-me que queria lecionar para mim, agora sua única aluna, até que ela completasse 100 anos.
Em certa ocasião, aos 93 anos, precisou fazer uma cirurgia delicada
Antes de se internar no hospital, disse-me:
- Eu vou voltar para te dar as aulas.
E voltou até completar 94 anos.
Faleceu com essa idade e me confessou que fui seu motivo de seguir em frente com entusiasmo. Pois, ao final de cada aula, ficava desejando estar viva para dar sequências aos encontros musicais.
Ela me convidava para tocar em eventos.
E fazia questão de estar presente em todos eles.
Senti muito me afastar dessa professora tão querida.
Quando estou ao piano lembro de seus ensinamentos e a tenho sempre por perto em minhas lembranças.
D, Idia lecionou minhas duas filhas e já era considerada uma pessoa da família.
Comemorava o aniversário em grande estilo. Eu me encarregava das apresentações ao piano. E chamava D.Idia para tocarmos juntas.
Sempre alegre e corajosa, D.Idia era um exemplo de mulher.
Não se casou e trabalhou para o próprio sustento, desde que se formou no curso de Letras e, simultaneamente, no Conservatório de Música.
Foi professora de Francês, regente de canto coral, em escolas e igrejas. Mas, foi como professora de piano que se realizou plenamente.
Costumava cantar músicas do folclore italiano, no próprio dialeto.
Tinha uma bela voz de soprano e gostava de se apresentar cantando e se acompanhando ao piano.
Sou muito grata aos encontros que tive com D.Idia.
Ela foi uma professora dedicada e uma irmã de coração.
Faleceu há três anos e deixou uma lacuna insubstituível em minha vida.
Compartilhamos horas de grande alegria e de uma cumplicidade encantadora.
Nunca vou lhe dar o meu adeus.
Prefiro dizer até logo, como se fosse encontrá-la em nosso horário semanal.
Mas, internamente, a encontro todos os dias ,como parte das melhores e mais significativas lembranças de minha vida.
Em minhas orações a incluo, diariamente.
Muito obrigada, querida professora, pelo grande carinho que sempre me dedicou e que se tornou primordial para meu desempenho ao piano.
Que Deus a tenha em Sua morada!
Ah! antes de concluir:
- Querida mestra! continuo a estudar aquele repertório de chorinhos brasileiros de Ernesto Nazaré que a senhora me pedia para nunca esquecer.
Katia Chiappini
A imagem pode conter: flor, planta, texto e natureza
Neiva Chiappini de Ubal, Jane Ortiz e outras 8 pessoas
5 comentários
11 compartilhamentos
Curtir
Comentar
Compartilhar

Um comentário: