BREVE CRÔNICA FAMILIAR

                            EM FAMÍLIA

Papai era gerente da agência central do Banco do Brasil, em Porto Alegre.
Era um homem boníssimo que exercitava a paciência todos os dias.
Não costumava contrariar minha mãe cuja personalidade forte dominava a família.
Eu estava na adolescência e fazia as argumentações necessárias por meu irmão e por mim. Meu irmão era calado e não queria sair de seu sossego. Por isso, não discutia com mamãe.
Um dia meu pai me ligou marcando um almoço com ele no restaurante do Banco do Brasil, com vista para a cidade. Quando cheguei a secretária me ofereceu um cafezinho e papai sentou-se ao meu lado no sofá.
Então, disse-me ele:
-Filha, queria pedir que tenhas mais cuidado para não contrariar a mãe.
-Mas papai, as vezes, me obrigo a contestar suas opiniões.
-Mas como é tua noite quando te recolhes ao teu quarto?
-Durmo bem, meu pai
-Eu não consigo relaxar e nem dormir um sono tranquilo.
-Mas estás com muitas preocupações no trabalho?
-Na verdade, tento dormir, mas a mãe me acorda a cada movimento que eu faça para virar de lado.
-Alguma razão especial?
-Ela fala ao meu ouvido sobre as discussões que tem contigo, minha filha. E me repassa durante a noite toda, indignada, reclamando que estás teimando muito.
-Vou comprar um tampão para teus ouvidos, meu pai.
-Filha, prefiro que tenhas mais paciência com ela para que eu possa ter uma boa noite de sono, o que há muito tempo não me é permitido desfrutar

                                    KATIA CHIAPPINI