Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

UMA ARTE DESASTRADA!

                  UMA ARTE DESASTRADA

Conheci um juiz de Direito, amigo de minha família, bem como sua mulher.Essa senhora era uma dona de casa competente e tudo entregava nas mãos do marido: tudo o que ele lhe pedisse. Mesmo alcançar o par de chinelos que estava no segundo piso, sendo que o marido ficava em seu escritório, no primeiro andar da casa.
Certo dia essa senhora me perguntou o que fazer para ganhar um tempo para se dedicar às suas costuras. Sugeri que presenteasse o seu marido com um violão. Lembrei-me de que ele me vira tocar e comentou, na ocasião, que esse foi seu sonho de infância: aprender a tocar o instrumento de sua preferência. E só não conseguiu porque seus pais tiveram 10 filhos e viviam com dificuldades para manter essa estrutura.
Dessa forma, minha amiga, aceitando a minha sugestão, colocou-a em prática de imediato.E, de quebra, resgatou um tempo para terminar suas costuras.
O juiz agradeceu o presente e ficou surpreso com a iniciativa de sua mulher. Tratou logo de encontrar um professor que fosse em sua casa. E passou a ter duas aulas semanais e a estudar todos os dias para praticar as primeiras escalas. Como estivesse aposentado podia se ocupar com os estudos.
Um ano transcorreu e o casal parecia tranquilo.
A mulher do juiz não precisou mais se preocupar em levantar para levar leite no escritório, ou o chimarrão, o café da tarde ou o ovo cosido. O juiz se ocupava dos seus estudos ao violão e a deixava em paz. E, antes disso, ficava rodopiando pela casa ao redor da mulher.
Mas para sacudir um pouco essa rotina convidei o casal para almoçar em minha casa. Só o juiz compareceu com o seu violão.
Após a refeição, convidei-o para nos brindar com algumas músicas e demonstrar seu aproveitamento durante as aulas.
Meu marido pediu licença aos presentes e foi deitar um pouco.
Fiquei na sala com meus filhos e uma sobrinha querida que tinha vindo nos visitar:Lili.  Nos acomodamos no sofá da sala para ouvir o juiz.
Quando tentou cantar e se acompanhar ao violão, os acordes do ''Parabéns a você'' foram para um lado e a voz do juiz para o outro.
As crianças juntaram todas as almofadas que encontraram no sofá e cobriram o rosto com elas para disfarçar o riso. Mas não foi possível segurar por muito tempo e uma gargalhada, em uníssono, tomou conta da sala. E, por incrível que pareça, o juiz continuava a cantar, como se tivesse chance de acertar o tom da música.
Em dado momento o juiz parou e olhando em minha direção perguntou:
- O que aconteceu que essas crianças não param de rir?
-Não repare, amigo juiz. Todos sabemos que crianças riem à toa.
Foi nesse instante que tive a ideia de pedir empresado o violão e cantar junto com meus filhos, para que tudo voltasse ao normal. E usei como desculpa o fato de querer, eu mesma, verificar a qualidade do som do violão.
Foi dessa forma que todos paramos de rir.
Enquanto o juiz nada aprendera porque lhe faltava ouvido musical, sua mulher ganhara tempo para finalizar suas roupas novas e ainda reformar outras tantas peças.
E quando ela percebia que o marido andava inquieto ao redor dela ou caminhando sem rumo pela casa, se antecipava e gritava para que ouvisse:
-Marido, vá estudar violão porque o professor disse que é preciso muita dedicação.
E, não demorava muito, já se ouvia o juiz aposentado, ao violão, repetindo muitas vezes aquela cantoria desenfreada, desastrada e insólita.

                                    KATIA CHIAPPINI








Um comentário: